terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poema : O meu lixo.

O meu lixo
Para Dani Barros e Estamira.

O meu lixo reciclado é belo.Ele fede a cheiros
Preservados de um universo fixo, interno.
O meu lixo é ótimo para intimar entranhas
alheias, ceias .Até para lustre de cenas solitárias
o meu lixo é pagão quando se asseia, vira Cristo
quando desarruma o bordão das paredes arrumadas
da minha casa. Do meu lixo não exijo razão.Dele
presume-se apenas uma inocência doida,hidratada
com uma esponja líquida de jorros. Uma ardência
anti-caprichos esquiva, delira desses escombros sóbrios.
Porque o meu lixo se assina com tombos em que mantive
Fendas de incoerência feito oferendas conscientes.
Estou omisso a qualquer política higiênica.Seguro dos mil
Anseios presentes sigo querendo a inquietude como colheita.
Eu invisto no meu lixo.Desisto da vida certa tão cega
Baseada em uma cartilha acadêmica de partilha histérica .
Eu assisto a muitas calçadas nobres feitas sob a conduta
Anêmica  de uma vida bem preservada. Entre limpar e luzir
o meu lixo é teimoso em conduzir a normalidade descabelada.

RIO, 27 DE DEZEMBRO DE 2011.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Crônica-A visão de raio x do cadeirante que vai às ruas.

  Observar para agir. Destinar a sua capacidade de observação uma importância de radar e  de rede. Essa capacidade de poder colher das coisas vistas significados maiores dos que os fatos verificados parece uma fuga da realidade. Não é. Para quem fica em uma cadeira de rodas o mundo necessita ser preenchido com novas perspectivas, daí a importância de se enxergar além, fornercer uma capacidade de raio x frente ao cotidiano.

 Uma saída para as  ruas deixou de ser uma ação comum desde quando eu me tornei cadeirante. É um olhar curioso, atento e mais disponível para a vida. Há o perigo da minha cadeira virar, ainda toco muito mal a minha cadeira. Então, cada imagem registrada atende a uma chamada urgente do acaso. A atenção redobrada é para proteção , mas a visão de raio x desenvolvida tem um quê do poeta que edita as coisas de uma forma melhor do que elas são.

Eu não me perco no mundo da lua quando estou na rua , esse direito me foi tirado quando me tornei cadeirante. Melhorar o que vejo não é recorrer à fantasia, é reescrever da melhor forma distâncias cujo corpo não chega, mas são espaços a serem desbravados. Primeiramente com o seu olhar aguçado , capaz de entender o que se passa ao redor com nitidez, para depois estabelecer a melhor maneira de interagir nas situações encontradas  nas ruas . É nas ruas o local em que o imprevisível costuma operar. Portanto , é o terreno ideal para praticar a visão de raio x.

Concentrando a capacidade de captar com mais atenção os flagrantes do cotidianos ,eu adquiri uma carta na manga.Ela se refere as sutilezas agora percebidas. Passei a perceber detalhes com uma precisão gogglogiana. As minhas buscas nem sempre tem compromisso com o rigor burocrata dos fatos. A atenção é vigilante, estando agora eu mais aberto aos raios do acaso que sempre nos atingem, uma ida para as ruas tem um gosto de aventura. As chance de queda existem, eu temo mais é pelos ataques de tédio. Embora eu faça mil vezes as mesmas coisas , siga rotinas e seja fiel aos lugares que vá, eu brigo pela originalidade das andanças pelas ruas. Muitas vezes , eu saio e não há feitos extraordinários acontecendo. Afinal, eu não vivo em um filme do Indiana Jones. Poder sair de casa e voltar vivendo um estado de espírito diferente ao voltar para o meu doce lar é estabelecer a circulação de emoções a nos rodearem.

Para a visão de raio x funcionar , não posso deixar as lentes interiores embaçadas. Vem daí o maior desafio. Esse é um assunto para outra crônica. Olho para o dia nublado de hoje e planejo a minha saída para rua.Irei preservar a segurança mantendo a minha coerência desbravadora. Unindo emoção com atenção eu prossigo.

Um abraço PARATODOS !

André Nóbrega.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Poema -Olhar célebre.


Olhar célebre

É bom sentir o meu desejo expresso
Pelo olhar da moça a esconder o meu maior
carrasco.Quando ameno,esse olhar dela é freio
para um ataque.Meu meio ateu a exaltar os deuses
celebrando o fútil entusiasmo.Fica clara em meu
sorriso a intimação lasciva.Sem aquele olhar as minhas
ações justificam os horizontes de um caçador sem faro.
O meu corpo sua tanta decepção com o despreparo das
outras lentes.O frio se apega ao calor expelido pelas fogueiras
fracas de sentido e rasteja taxas para o desperdício consciente.
A fim de saber,aquele olhar me arrasta para uma data célebre
quando é presente . E fúnebre quando se surpreende mirando
qualquer outro espelho.Olhar de esgrima , longe de ser  a chave
de algum enigma. Quando estou refletido por qualquer intenção
íntima tua a paixão me ativa para o risco, abre  e assina com o
acaso uma valiosa cooperação.

RIO,15 DE DEZEMBRO DE 2011.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Crônica- O verão que atinge a todos!!

  O verão do Rio de Janeiro é um acontecimento. Influencia todos os habitantes sediados na Cidade Maravilhosa. O calor não leva em conta a opinião de quem prefere o frio e temperaturas mais amenas , as altas temperaturas atingem a todos. Para os muitos que esperam por essa época do ano,uma questão fundamental é poder usufruir da praia . Eu sempre amei verão e praia. Foi a partir do verão passado que tomei conhecimento do projeto PRAIA PARA TODOS. A valiosa iniciativa permite aos portadores de necessidade especial o direito de frequentarem a praia com todo o conforto , segurança e alegria necessárias para um extraordinário lazer a beira mar. Há uma infra-estrutura eficaz propiciando o tão aguardado reencontro com a praia . O período de atuação do projeto costuma ser aquela oportunidade breve de usufruirmos das maravilhas de um dia de sol assim. Até o último verão ele manteve uma base permanenete no posto 03 da praia da Barra aos sábados, no período compreendido entre dezembro e maio.

O PRAIA PARA TODOS desse verão ainda não começou. Sendo a iniciativa um impulso de transformação pessoal de largo alcance, eu tocarei em alguns pontos dele :

01) O mar concentra propriedades de renovação. O contato com a água purifica , oxigena os indíceis de bem estar e nos faz vislumbrar possibilidades de alegria instantâneas. Portanto, para as pessoas que pensam e conseguem realizar tal empreendimento , aqui vai um mar de calorosas palmas;

02)As atividades poliesportivas monitoradas pela competente equipe que participa das ações da empreitada impressiona  pela entrega .Além disso, as intervenções promovidas por músicos convidados pelos organizadores ,as gincanas realizadas para se sortear utensílios fundamentais aos cadeirantes e o bom humor manifestado na realização pelos autores dessas atitudes produzem uma corrente solidária. Isso contagia o público alvo , que normalmente seria privado da chance de estabelecer com o espaço (anti-democrático para os deficientes) da praia. São gestos que alegram os pais , os parentes e cônjugues de quem  nos acompanha e ,dessa maneira, produz momentos especiais . Especial na dimensão que qualquer deficiente gostaria de atribuir à palavra;

03)O PRAIA PARA TODOS está crescendo . Acontece que manter essa infra-estrutura requer planejamento , a viabilização de parcerias e apoios a fim de se manter o direito conseguido pelos idealizadores dessa obra essencial.

  Uma vez apresentadas essas colocações  , agora eu estendo a quem estiver me lendo um pedido...

 Mergulhe nessa praia movida pelo fortalecimento da cidadania e que é um marco para quem a frequenta. Antes do verão de sol a pino começar,  conheça o site do movimento(http://www.praiaparatodos.com.br/) .

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica- Tesão cadeirante.

  Se para o cadeirante faltam pernas para o direito de ir e vir , isso de cara gera um problema quando o assunto é paquerar , azarar e ganhar alguém.  A falta de mobilidade traz transtornos excessivos para o dia dia do cadeirante porque a rua passa a ser um palco perigoso. Por isso, o olhar desenvolvido para identificar buracos, desníveis na calçada é eficaz também ao identificar com precisão o que se ocorre ao seu redor. Com a cadeira em  movimento, a atenção é para garantir segurança ao se locomover. A cadeira estando parada o  olhar vigilante permanece com você, só que quem escolhe os alvos é o cadeirante.

 Eu passei a gostar muito de frequentar bares após a minha lesão. O bar nivela para o meu ponto de vista as pessoas dispostas a papearem comigo. Nesses momentos, tudo fica em pé de igualdade , o valor da boa conversa é um bom cartão de visitas para se seduzir alguém. Mesmo tendo a voz semelhante ao do Pato  Donald´s ,eu melhorei o meu nível de conversação , sabendo um pouco mais sobre a hora de falar , escutar e soltar piadinhas infames. A atenção que deposito para a mulher que desejo é total. Eu isolo todo o barulho de buzinas vindos das rua e sinalizo para o que ela estiver falando. Assim, a conversa progride , as bases para um entendimento ao que está sendo dito(e o que está sendo mostrado pelo riso e pelo olhar) são um terreno para fecundar emoções.

 Essa atenção total é transferida para o sexo , também.É preciso uma confiança extrema na parceira , se não eu nem consigo chegar à cama para consumar o ato com uma segurança mínima. Uma vez estando lá , o corpo segue caminhos que sabe das limitações físicas , mas que valoriza muito mais os atalhos a fim de se partilhar carinho com mais consistência.Não há pressa para se consumar nada , o nível de confiança estabelecido permite desfrutar melhor do tempo para se amar.

 O tesão cadeirante é uma lente capaz de enxergar além , é um sentimento capaz de cavar nas dificuldades de locomoção  uma economia precisa e sadia na conversa , nos risos e compromissos firmados. O tesão cadeirante anda lado a lado com o riso , concentra pensamentos sadios quando precisamos nos levantar ao despertarmos de noites mal dormidas . O tesão cadeirante é um amor incondicional pela vida que precisa ser reforçado sempre. Pois , para quem é cadeirante a invalidez maior é ficar parado, à espera de acontecimentos e não se moblizar internamente.

O tesão cadeirante é prosseguir sempre.

Um abraço PARATODOS.

André Nóbrega.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Crônica - Simplesmente complicado.

  A Síndrome de Miller Fisher se caracteriza pelos danos causados à mobilidade , a maneira como muda a sua fala e pela limitação causada à coordenação motora fina. Os danos ao corpo são bem agressivos , a minha evolução em relação ao quadro em que há pouco estive é nítida. O trabalho físico , a fisioterapia bem direcionada ,vem alcançando êxitos. Voltar a andar tem sido um objetivo possível atualmente.Eu posso classficar o meu momento atual como sendo o de uma transição. Saio de uma vivência de cadeirante para readiquirir uma demorada autonomia em meu andar. A cadeira é o meio de transporte necessário , ainda. A disciplina usada em dois anos e meio de fisioterapia esbarra na ansiedade em voltar a andar o quanto antes.

 Eu sou muito agradecido pela oportunidade de reversão do meu quadro físico . A Síndrome de Miller Fisher depende muito mais de um esforço contínuo em busca da reabilitação pretendida. O que me pertuba é utilizar a mesma ponderação , equilíbrio e confiança empreendidos na fisioterapia para a minha vivência diária. Clinicamente , a melhora é valiosa. No entanto, não poder fazer agora coisas que em meus 30 anos de vida eu fui capaz( e que há dois anos são ações complicadas) testam a minha limitada capacidade de tranquilidade disponível. Conseguir atravessar a rua com o andador é um ganho , sem dúvida. Tentar subir escadas  , pulando os degraus racionais para se recondicionar é imprudente. Convém agora saber bem  o que posso fazer muito bem ,levando em conta a margem de segurança. Basta chover para a locomoção se complicar. Além de inviabilizar o andador, isso não me dá garantias de não levar um tombo usando a cadeira de rodas. E mesmo chovendo , eu continuo a tocar a minha cadeira pelas ruas onde moro.

  O momento em que eu vi a Lagoa Rodrigo de Freitas de pé novamente foi mágico , ocorreu há mais de um mês atrás. Falta muita coisa para  eu conseguir dar meia volta nela . Para isso ocorrer , devo priorizar os ganhos obtidos desde 2009 com toda a gama de carcaterísticas que possuo. Dando o mesmo peso aos defeitos e qualidades.Saber como utilizar o que tenho de melhor e de pior para processá-los ao meu favor . Controlar a ansiedade para limpar os caminhos das necessidades referentes a cada etapa do processo. É simplesmente complicado. Por isso mesmo , vale à pena prosseguir.

 Um abraço PARATODOS !

 André Nóbrega.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poema-Conversas Paralelas




Conversas paralelas


O telefone do vizinho toca.Sons sem conforto
inicialmente são compartilhados. Nomes de favores
estão sugeridos.Uma prosa é iniciada e eu estou novo
para o sono. Os anos de diálogos comigo à noite
se fundem à risada contagiosa do papo ao lado.

Esse ato me lembra da penugem da mulher distante
mas o catálogo de prosas percebidas está velho.
As visões do que vivo confundem ,a alegria da voz
do papo íntimo do vizinho é um evangelho mórbido.
Jogar o lixo para fora de casa talvez resolva algo .
Omisso até para a estrada do frio o meu corpo 
enfim engata o pavio da lucidez.  

Eu não confio nas conversas paralelas. Magro de tanta
acidez eu prossigo.O destino de uma conversa intriga
porque desfez o meu silêncio.Depois ,hei de bater nessa
porta cuja serenidade suja o bem senso cheio de dor
e me renega . Com isso,o tempo do desabafo vira uma
pedra contida. Dos pés sem corrida retenho o máximo
dessa existência pouco vivida. 

O telefone fora do gancho da minha casa também
me desafia.Longe do dia, enumero nomes para uma
conversa acolhedora.A minha memória ingrata pára
qualquer carinho, não perdoa um descanso sereno.
O diálogo sorridente do vizinho e a minha masmorra
insone.É o espetáculo evidente sem alívio ou amanso
para qualquer disposição salvadora.

RIO,14 DE NOVEMBRO DE 2011.

domingo, 6 de novembro de 2011

Poema - A voz que é colheita

A voz que é colheita


Essa voz de festa próxima
Me convoca ao desvario,sabes?
Dessa forma destemida de desejo
Eu lhe desafio a um compromisso
indócil. Quando você acumular
falta ,afague um vício mais nobre.
Das suposições, traga consigo
o risco nos murmúrios mais triviais.
Daí, o que eu persigo como meta não
Será ata do vagar inseguro. Data
da vontade profana a esperada festa
pelo mergulho teu.Assim, a gente
desfoca as reações desse confisco
 injusto .Daquele céu aquecido de papel
não haverá passo seguro sem um
sadio extravaso. Esse teu rosto tem
o meu instinto definido. O posto de quem
revoga ações do presente e não atende
ao corpo, me mantém ilhado a um nó sádico.
Serpente do medo é supor,somente. Nada
de vestes de mármore.Me interessam os teus
artifícios ondulados em viva colisão feminina.
Dispenso as contra-provas desviando do
Caminho o indicio ao vagar pacífico.Quero- te
aqui sendo a mola que arisca rindo horizontes
comigo em um xote contínuo ,elevando escalas.
Acima da dúvida assola a tua sorte.Ela risca
o nosso destino intima fontes e provas
insuspeitas.Cedo ou tarde,a tua voz me vacina
daqueles mares tranqüilos.São tolos os meus
inquilinos a aceitarem os prazeres tão ocos
de você.Os motivos da colheita são decisivos
 os da rejeição são sons estéreis de tons
e momentos outros.Eu cativo o fomento evidente
a uma nova canção.Crente das trovas e dos
fragmentos à espreita, a paixão rejeita os meio termos.
Se a tua voz enfeita os silêncios, ela enfeitiça
os nossos ermos tempos.Constantes ou passantes
o importante é nunca estarmos desatentos.

RIO, 05 DE NOVEMBRO DE 2011.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poema- Fagulha improvável



Fagulha improvável


Amada a palavra muda
Muito difícil na ida
Porque arrebata no vazio
Uma idéia aos berros ainda.

Palavra colhe estéril e inunda
Precipícios quando quer.
É divina e traiçoeira
Porque aglutina princípios
Para os maiores espantos.

Sem papas na tinta
Com letras marcadas em digitais
De espera,para que o destino
Acometa paz como quem ensine
posse aos filhos.

Sem deserto a palavra crava
Ventos em alicerces frágeis.
Ela marca a pele com dúvidas
E adere preces próprias
Com verdades dúbias.

Palavra muda,palavra sempre.
Quem persegue uma ilha entre sons
É isolado.Quem se despede
Do concreto até o incerto
Como desdém da fagulha improvável
Nas letras será quem busca nas palavras

O motivo para um espelho correto por fim
acha um tedioso refém.

RIO,06 DE JUNHO DE 2010.

Poema- Descoberta

Descoberta

Lamba teus males
Com anseios de marés.
Para relvas em campos
De verde musgo és tu .
Não bastam rodapés
De qualquer escritura
Vesgo olhar e alma sã
Inscrevem na carne
tua mulher segura
para o compromisso
ventilado em desarme.
Barca dos pés descalços
Nefastos ,sem bússola
Abocanham brisas...
A prece convida quieta
nas  tempestades
-    entre divisas   -
Para uma magnífica
D E S C O B E R T A!!!

RIO,17 DE JANEIRO DE 2010.

ANDRÉ NÓBREGA

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poema- Fôlego para atravessar tsunamis

Fôlego para atravessar tsunamis

Sabes do nosso ponto de partida?
Você funciona sendo trilha
o ardor delira a tendo como sócio...
Sabes estar acolhida pelo sonho
Da mais pulsante via?Daí ,qualquer
Vento requer uma paz , um flagrante
Capaz de esconder o que me inspira
à prazo o teu peso. Somos sombras.
Seremos mais quando os poemas
Celebrarão contágio e dos terrenos
Improváveis os termos da coragem
Serão guia. Fria é a contagem dos
tempos.O templo de oração que
anestesia miragens.Diante da poesia
somos todos capazes.Sem reclames
verdades totais ou pazes com a fossa.
Mas , moça ,a saudade faz traçar desertos
E desenhos. O rabisco pelo qual se defina
Força aguarda pelos seus traços. Assim
Uma página se verte em lágrima,adverte
Uma máxima que é infame...
Quando a distância convoca pressa o calor
Engessa a vida. Dá fome não vê-la, uma
Besteira de náufrago o meu encanto.Mas quer
Saber?Tenho a bóia sincera da ousadia aqui.
Sem prever,estou pronto para alegrias fraternas
A disposição que dome as suas calmarias
E atravesse os seus tsunamis.

RIO, 14 DE SETEMBRO DE 2011.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Poema- O tempo não considera boas intenções

O tempo não considera boas intenções

Não chame de azar o impulso sincero a rondar
O teu momento.Se é justo ou não,o motivo da tristeza
a quem acolheu o instante da perda como o aleitamento
nas redondezas do teu flagelo.Será eterno o teu reclame
se aceitares o sofrimento com culpa e se acanhares ao evitar
risos açoitando pena em você.Lembre-se que se pregares
a culpa feito um martelo diário,o crediário rancoroso aumenta.
Bote nessa dispensa uma taxa mínima. Uma brisa de riscos
ao alcance do gozo. Senão, o passo intima ao corpo a brasa
de uma censura . A tua felicidade assina com o acaso
implorando migalhas de prazer.Das tralhas traga a sina
inevitável ,pois ela será sempre minha e tua...
As idades passam , o tempo não compactua atrasos
sucessivos.Assim , os esforços empenhado nas ações
serão segundos seguidos pela cobrança contínua.
Isso ,definha o alimento rico, o tesouro nascido do gérmen
cujo fio valente nos mantém.Dê sustento ao estouro do ouro
alimentado pelas lágrimas. Quando tudo apela gelo, o vento
espera espalhar sonho adormecido. São preocupantes as idas
E vindas , a alegria se deformar em desespero .Dessa guerra
você anuncia haver partido a esperança ,engessará o zelo próprio.
O tempo não considera boas intenções. Então lhe direi o óbvio;
Respeito o teu sofrimento. A razão para reclamar é infinita
tudo complica quando o principal é transformar-se por dentro.


RIO, 24 DE AGOSTO DE 2011.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poema- O seu mundo hábil para o riso


O seu mundo hábil para o riso

Quem sabe ontem a palavra dada
Em nossa conversa fosse escudo.
Desculpas de quem atravessa a
Timidez trilhada em dúvidas fáceis.
Uma notícia desse seu mundo
Hábil para o riso .Pois, ontem você
Me fez sentir preguiça do obscuro .
Hoje deixo que a saudade e a dúvida
Se confrontem . Há a embriaguez de
Tanta vida e me comanda o assunto
Da pétala , essa justiça bela e tardia
Preenchida com sua sensibilidade.
Agora , a vontade desperta , o sol impõe
à minha janela uma premissa de glória.
Sendo o dia de sol ou de chuva o meu
Corpo só considera a vontade que premia
A chance clara de vitória.

RIO , 19 DE AGOSTO DE 2011.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crônica - A bactéria

 Quem cala nem sempre consente. Aquela pessoa capaz de pensar bem e planejar os seus passos , age com mais consistência. Eu tenho uma natureza reativa , muitas vezes condicionada ao exagero.Fazer uso dessa força foi valioso para suportar a carga de exercícios exigida pela fisioterapia. Sem me dar conta , eu adquiri um rigor excessivo , bom para a reabilitação e péssimo para o resto.

 Hoje eu sei que grande parte da minha vontade em me recuperar veio da gratuidade do fato que ocasionou a minha lesão.A partir de uma operação de apendicite mal feita,além de uma inteiração medicamentosa provocada por um antidepressivo que tomava e um remédio pós operatório, a minha imunidade baixou radicalmente. Eu fui a vítima ideal para uma bactéria danosa fazer a festa com o meu organismo. Em menos de duas semanas após a operação de apendicite o meu corpo já não se movia e a minha voz foi para o espaço. A chance de tais incidentes se alinharem ocorre entre 1 a cada 100.000 pessoas, conforme o neurologista que me assisti revelou.

 Uma vez iniciado o processo de fisioterapia, eu incorporei todo o ódio acumulado diante da situação e me lancei em busca do meu objetivo; voltar a andar. Se a finalidade é válida , a maneira encontrada para demonstrar isso, não. A raiva foi importante para sedimentar a carga de exercícios com a qual eu precisava ser submetido.Bastava acabar a sessão de fisioterapia e havia a mistura de sentimentos negativos sobre mim. Eu me sentia acometido por uma injustiça, aprisionado pela falta de rotina do momento devido à minha movimentação precária e começei a alimentar uma bactéria pior da que permitiu a lesão neurológica se fez instalar em mim; o rancor pela vida.

 Essa bactéria começou a me incomodar , pertubava o meu sono e não permitia enxergar em um espaço de 24 horas muitas possibilidades de celebrar o que fosse. A família , namoricos e visitas não travaram o avanço do meu problema com o mundo, pois eu fui um imã para o pessimismo .Durante muito tempo o sorriso deu lugar à expressão séria, com o olhar fixo a cuspir ódio e a testa franzida. É o traquejo mais óbvio das pessoas descontentes com o mundo . Eu acatei esse comportamento sem ter noção das consequências de tal prática.

 Hoje , consigo progressos na fisioterapia.  A bactéria danosa está sendo combatida , eu preciso me atentar à outra bactéria. Eu com certeza a alimentei com o vírus insano de algumas atitudes desmedidas. Isso sempre existiu em em mim e deve ser atacado com anticorpos capazes de me alimentarem naturalmente.A começar pelo compromisso em substituir a vocação ao radicalismo, buscar o riso e tentar inspirar poesia de ares poluídos pela ira.

 Buscar o caminho do centro e da ponderação talvez seja mais difícil do que andar para mim. No entanto , são dois objetivos nobres, merecedores de uma  maneira de atuação que saiba equilibrar o rigor quando ele for exigido e a beleza que se tratando de matéria de vida, nenhuma bactéria de você se agoniza.

 Um abraço PARATODOS,

 André Nóbrega.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Crônica- Ansiedade inválida

 Além do direito de voltar a andar nas ruas com andador e cadeira de rodas , poder sair um pouco mais de casa ,  conquistar uma relativa independência , ainda falta muita coisa.

 Quando se amplia um universo pequeno , o instinto de expandir a sua visão e reação das coisas do mundo é um impulso natural .Principalmente , quando o seu mundo recente se aproxima das sensações com as quais você sempre presenciou de forma natural. Andar ,por exemplo. A minha lesão permite uma evolução nesse sentido, por ser tratar de uma agressão sofrida pelo cortéx cerebral , uma especíe de maestro do corpo humano .Através do cortéx cerebral algumas funções vitais do organismo , tais como as ligadas ao movimento e a  fala, são reguladas. O meu 'maestro' vem sendo estimulado desde junho de 2009 à custa de acompanhamento fonoaudiológo , muita fisioterapia e uma reeducação diária minha. No meu caso, a capacidade motora e da fala do corpo permite essa evolução, cabe a mim estimular isso. Se por estou trilhando um bom caminho na reabilitação , me adequar com segurança à passagem do pequeno mundo em que vivi às possibilidades que despontam firmes, ainda falta muita coisa.

 Falta me conscientizar dos limites da minha condição atual . O que posso realizar atualmente sabendo que não tenho a fragilidade de dois anos atrás , nem a consistência ao andar de quando tinha 25 anos . Talvez, faltem certezas relativas ao quanto eu posso evoluir. Em relação ao controle da permanente ansiedade, ainda falta muita coisa.

 Não me nego a cumprir rotinas , estou voltando a trabalhar e encontrar as pessoas. A reeducação inclui identicar os fatores e as causas mais tortuosas a lhe acompanharem. Eu controlo a ansiedade contrapondo uma análise dos fatos e uma ação de vivacidade imediata. Somos seres pensantes e interessantes porque podemos ocupar muitos lugares e papéis distintos. Em matéria de reconhecimento ao aprendizado permitido a partir da minha lesão , ainda falta muita coisa . E ter a consciência desse processo me preenche de alegrias.

Eu sigo na luta , ansioso e perseverante.

Um abraço PARATODOS!!

André Nóbrega.

sábado, 30 de julho de 2011

Crônica-A solidão bem acompanhada

  Cada pessoa tem o seu mecanismo de lutar contra a solidão. Muitas vezes ,estar só significa entender os mecanismos que atrapalham o seu momento de vida e descobrir maneiras possíveis de superar(ou simplemente pensar sobre)os problemas vivenciados por você. É aquela solidão consentida, desejada a fim de escolher os passos a serem tomados a médio e  a  curto prazo. Eu me tornei cadeirante há dois anos, em decorrência de uma lesão neurológica rara , a chamda Síndrome de Miller Fisher. Uma doença que ataca o cortéx cerebral e compromete os seus movimentos , a sua fala ,assim como a coordenação motora fina. O efeito sobre o corpo é devastador. Em quase um mês internado eu perdi 19 kg, praticamente não mexia o corpo da cabeça para baixo e perdi o volume e a legibilidade da voz.Eu dependia dos outros para fazer tudo.Precisa ser carregado para tomar banho, não conseguia comer sozinho e tive que usar fraldas geriátricas aos 30 anos.Passados dois anos da experiência ,eu utilizo bem o andador,mais ou menos a cadeira de rodas quando vou às ruas, vou ao banheiro sozinho e consigo falar com razoável fluência. A reabilitação vai bem, obrigado.Sinto falta é de passar um tempo maior a sós comigo mesmo.

 É comovente notar o zelo familiar exercido. A experiência de ser refém do próprio corpo, sem ter capacidade de realizar as funções básicas só é suavizada pelo amor de quem está perto, predisposto a lhe afagar através de gestos, atitudes e carinho a sua invalidez momentânea. Eu passei de um grau total de dependência aos estágio em que encontro hoje pelo apoio dos familiares(estão aí incluídos amigos e amigas do peito) , a minha entrega buscando a reabilitação e através da prática da escrita. Eu só pude me dedicar ao blog a partir do momento em que alcancei o direito de poder ficar sozinho em minha casa.Ir ao banheiro ,me vestir e fazer a barba são tarefas possíveis desde o final do ano passado, pelo menos.

  Exercer o diálogo interior é fundamental para estabelecer os erros e acertos da minha reabilitação física ,pessoal e profissional . Devido à lesão por mim sofrida, permitir uma evolução é palpável e tenho conseguido avanços. Atualmente , sinto falta da diálogo interior mantido enquanto vou às ruas. Não toco bem a cadeira de rodas, não posso pensar na vida quando me locomo.A agitação das ruas não permite. Por enquanto , tudo requer a atenção máxima, mas sei se tratar de uma fase de transição essa ansiedade sofrida. O meu ponto escolhido para pensar na vida é um point bem legal ,bem frequentado e passível de fazer e criar as meditações literárias, sentimentais e desaforadas necessárias. Trata-se do Bar Rebouças.

 Conquistado o direito de ir ao Bar Rebouças, quero acessar o hábito de frequentar cinemas , ruas e festas com maior desenvoltura. A fim de exercer isso, o fortalecimento físico e a malícia de andar nas ruas está sendo  levado em conta e exercido.

 Eu escrevo hoje a vocês porque a minha cadeira de rodas está com defeito, certamente teria saído num sábado a noite bonito como o que a Cidade Maravilhosa nos premia hoje. Pelo simples fato de eu poder optar entre ver TV ,navegar na internet e dormir na hora que quiser, comprova todos os ganhos aquiridos durante a minha trajetória.Haverá outros sábados ,cinemas , idas à festas e ,é claro, momentos para poder escrever.O ato da escrita é uma solidão consciente e a leitura do que produzo faz ecoar uma solidão bem acompanhada. Consegui o direito de ficar em casa , a minha cadeira está precisando de reparos e eu me tranquilizo.Logo , logo eu voltarei às ruas.Sem pressa e a menor intenção de pensar na vida em um sábado à noite.

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Poema - O princípio mais óbvio




O princípio mais óbvio

Soa compreensivo o recado de adeus.
O que se perdeu em motivos tão fáceis.
Os cacos dão colorido à perda , eu odiando
A sua alegria, sepultando os teus rastros.
São táteis os medos, percebo e me esquivo
Das perguntas.Elas vem juntas da verdade
Simples.A ação que credita mágoa ao princípio
Mais óbvio. Quanto mais convoco explicações
à síntese dos fatos, mais provoco medidas
E inalações de ódio diárias. Essa doença
se equipara ao artefato mais difícil e humano.
Ela se apresenta ao repetir para mim que amá-la
É o início do plano perfeito ,leito de uma maldição
evocada pela sua celebrada ausência. É o engano
cujo luto consagra e a memória cinzenta confunde.
Não desfruto do real ,apenas consumo o ideal
que renda histórias prontas para serem escritas,
vendidas  para antenas carentes. Perfeita e estreita
a minha covardia.Caso não se consuma a gangrena
do luto a minha bravura será colheita a renegar vida
e vomitar poesia.

RIO, 26 DE JULHO DE 2011.

Crônica- As ruas do Rio ,o escritório que eu participo de cadeira

   A cultura de rua no Rio de Janeiro é um patrimônio rico , vinculado ao nosso clima e a tendência que a cidade convoca os seus habitantes a descobrirem a cidade. Um dia de sol límpido não melhora o mundo, mas nos faz dar uma espiada ao redor.Circular e permitir o encontro com pessoas a quem você não programou se deparar , mas que a partir do reencontro surjam possibilidades para um chope, um cinema e um convite de trabalho até.Em decorrência da minha lesão neurológica os meus movimentos básicos ficaram comprometidos, assim como a fala e o acesso à cultura de rua do Rio.

  Durante o meu primeiro verão após a lesão a troca da praia pela fisioterapia foi compensadora do ponto de vista clínico.O meu suor possibilitou melhoras consideráveis , a dedicação foi extrema. Não poder circular pelas ruas onde moro, falar sobre futebol com conhecidos, cumprimentar o jornaleiro e ir à padaria eram possibilidades distantes .Passar um verão no Rio de Janeiro sem vivê-lo como você o viveu em trinta anos de vida foi necessário. Eu saía somente para ir à clínica de fisioterapia. O meu erro foi viver exclusivamente para a reabilitação , deixar de lado os chamados da vida.

 Por um tempo, eu deixei de frequentar a rua por cagaço. Quando eu passei a apresentar condições para interagir socialmente foi chato explicar a quem encontrasse os fatos ocorridos.Chato porque a minha voz lembrava a do Pato Donald e ao relatar a experiência eu tornava a presenciar alguns sentimentos . A família foi a minha base, a minha bússula , o meu mapa permanente a espantar qualquer ameaça de precipício.Eu devo a outros três fatores a ajudar em meu processo de ressocialização.Vou citá-los por ordem cronológica: passar a frequentar o Bar Rebouças , ser paciente da Rede Sarah e conhecer o Projeto PRAIA PARA TODOS.

  Eu passei a frequentar o Bar Rebouças pela simpatia e humanidade de uma grande amiga minha .Foi durante a Copa do Mundo de 2010. Eu estava deslocado ,olhando aquela galera bonita farreando e achando que aquilo não era comigo.Na  época , eu ainda necessitava dos cuidados de um assistente de enfermagem para sair, e a  minha amiga sentiu a minha vontade de participar daquela celebração e , assim, fui apresentado ao Bar Rebouças.Se você achar exagerado o relato , confira você  mesmo indo ao Bar.Pode me chamar , inclusive. Uma vez iniciada a reabilitação social , tive facilitada a minha reabilitação integral pela Rede Sarah.

  Ao conhecer o trabalho , a infraestrutura e , principalmente, a paixão das pessoas da Rede Sarah , eu redobrei a minha intensidade visando a reabilitação e adicionei largas doses de entusiasmo ao meu caminho.Em dois meses , eu realizei o máximo de atividades ao meu alcance. Além da fisioterapia, tive aulas de como tocar a cadeira, fonoaudiologia, natação,oficina de artes, expressão corporal e fui apresentado ao GIP,o grupo de terapia intensiva destinado às pessoas com lesão adquirida e pessoas portadoras de necessidades congênitas.O grupo é admistrado por duas brilhantes profissionais; uma pedagoga e uma psicóloga.Duas mulheres fortes ,capazes de admistrarem as questões expostas pelo grupo.Todos saiam transformados de alguma maneira com as discussões evocadas.Nesse espaço falamos sobre as dificuldades do dia a dia e de como poderíamos viver respeitando à realidade de cada um.Eu aprendi demais com o GIP, eu me fortaleço quando volto ao Sarah a fim de fazer exames e rever os amigos feitos na instituição.

 O projeto PRAIA PARA TODOS foi duplamente importante.Por possibilitar o meu reencontro com o mar e , mais ainda , conhecer pessoas bem humoradas,conscientes e que me obrigaram a abandonar o estigma cultivado por mim de cadeirante coitadinho.

  Hoje , eu começo a redescobrir as ruas. A maneira de me locomover mudou radicalmente, o jeito de observar e falar com as pessoas, também. O apelo das ruas é irresistível .Graças ao suporte dado pela Rede Sarah, o ineterrupto afago familiar ,dos amigos e amigos que me dão muita força para usufruir o bar, marcar um cinema e discutir futebol, eu ganho fôlego para percorrer os mares que virão.

  Um abraço PARATODOS!!

  André Nóbrega.

domingo, 24 de julho de 2011

Crônica- A alegria em manifesto

  A reação de pessoas em um ambiente fechado é acolhedora, por dirigir a nossa energia e bem estar a quem escolhermos sem grande interferência externa. Na crônica anterior eu me referi ao desconforto por mim sentido nas festas nas quais eu encontrei pessoas próximas e conscientes da minha condição de deficiência adquirida .Pessoas próximas que não tinham me visto numa cadeira de rodas, ainda.Mencionei também a falta de habilidade pessoal em lidar com tais situações. Eu soube ontem a respeito de uma manifestação da classe cinematográfica do Rio de Janeiro contra o veto imposto ao filme sérvio ''Serbian film''. O absurdo da ação de censura como foi colocada ao filme citado reuniu mais de 50 pessoas num sábado de inverno .Isso foi realizado no cinema Odeon, no dia 23 de julho de 2011.Entre as pessoas presentes eu estava lá para me sintonizar e interagir com alguns amigos envolvidos na questão. Era vital sentir a energia boa da galera do cinema, ser visto por quem enxerga o mundo de uma maneira bem original.

  Pouco a pouco ,a calçada em frente ao Odeon foi enchendo de gente .As pessoas foram se aproximando e participando do propósito da ação. Eu não estava inteirado sobre o assunto, os argumentos colocados tornavam óbvios a insensatez da censura covarde , imposta a um filme censurado em meio a realização de um festival em andamento. Eu ouvia a tudo interessado, sendo absorvido pelo ideal mais renovador com o qual me deparei a partir da lesão por mim sofrida; o de poder reagir de maneira enérgica e estudada diante de uma  adversidade.

  Estavam todos ali numa noite de sábado à noite.Estavam ali cientes da ação danosa promovida ao filme e da repercussão que tal atitude poderia causar ao se abrir esse precedente vergonhoso.Eu sabia um pouco sobre a censura, passei a saber um pouco mais. As pessoas que encontrei me chamaram para o bar ao lado. Eu fui e confesso a alegria em poder testemunhar as colocações de pessoas articuladas, intensas e capazes de transformarem a noite de inverno em uma arena acolhedora, preocupada com a grave situação deflagrada e pensando em conjunto para o ato de reação. Foi muito bom presenciar aquela conflagração de pensamentos vivos e circulantes, dando ao protesto a condição propícia para se fomentar experiências. O cinema obriga você a se socializar , é um dos baratos da arte coletiva.Falei pouco e desde cedo tomei para a minha antena o poder de condensar o máximo de observações possíveis.Mas era uma mesa de bar,mesmo assim ,o tom informal não atrapalhou o caráter pontual dos propósitos da ação.

 Eu saí fortalecido pela alegria pacífica e atuante,enérgica e bem humorada da noite. Devo ter sido alvo de alguns olhares de pena, mas eles estiveram imunizados pela corrente das pessoas a quem não via há muito tempo.Professores e amigos , papos super agradáveis e ações gentis de novos amigos fizeram da noite de inverno o manifesto sincero da prática gentil.

 O pleito é justo e não desviarei das possibilidades de reação solidária .Mas depois de ontem à noite, eu voltei para minha casa refeito com o poder encontrado nas ações em grupo bem organizadas.

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Crônica- A adaptação às festas

  Em uma festa são diversos os sentimentos presenciados. Os encontros amorosos podendo se confirmar , o desejo de rever amigos de longa data e a simples ação de desafogar o peso do dia a dia. São apenas algumas das possibilidades encontradas, três possibilidades comuns e com as quais as pessoas costumam se deparar com facilidade. Eu nunca fui chegado às festas, para mim o motivo da festa precisava atender a uma demanda interna minha , bem específica e rara . As festas do meu círculo íntimo de amizades constituíam uma excessão.Devido a essa dificuldade minha, aproveitei menos do que podia das festas de que participei. Com a lesão por mim sofrida houve uma mudança ; as festas de amigos , onde encontraria pessoas informadas sobre a minha condição ,mas sem terem me visto na cadeira de rodas, passaram a constituir momentos desagradáveis.

  Quando a junção de pessoas do seu círculo de amizades , a quem você considera e valoriza a companhia não lhe faz bem é porque algo está muito errado. Ao se levar em conta a minha tendência antissocial , o pensamento automático seja o vinculado  a de que a falta de traquejo social esteja agravada  pela minha deficiência adquirida .Não é verdade, eu passei a valorizar mais as festividades agora , priorizo os eventos nos quais as chances de encontrar alguém do tempo de quando eu andava são menores.

  É impossível as pessoas não realizarem a comparação de como você era antes e como está agora. Em uma festa cuja memória da sua vivência como alguém que andava é forte, o desconforto é garantido. As pessoas não querem lhe botar para baixo.Elas geralmente são solícitas, querem lhe ver bem ,estar contigo e celebrar ao seu lado. Sem ninguém saber eu travo uma batalha. A memória de quem eu era fisicamente está sendo adaptada ao que eu sou agora .Eu só consigo lembrar de como eu agia e reagia com as pessoas e como eu ajo agora.

 O propósito da festa não é esse,é claro. A celebração deve ser buscada sempre, só é necessário dar tempo a tal readaptação afetiva. Passei a valorizar mais as festas agora , não abro mão do convívio das pessoas que gosto e a melhor maneira de vê-las juntas é  em uma festa. A auto aceitação minha é fator essencial ao processo, pois não deixarei de comparecer ás festas e se tenho coragem de andar nas ruas esburacadas do Rio de Janeiro, receber o carinho das pessoas que amo não será ruim .Som na caixa DJ!!!

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Poema - Difícil sorriso


Difícil sorriso


Eu queria o esforço desse sorriso
Sem estudo ou fosso . Você viria
A mim sedenta, medindo só
a nosso alegria ,ela alimenta
o teu impreciso andar.
Quando melhor estiveres ,meus
Pedidos estarão perdidos ao
Tom célebre da voz oscilante
Medindo nesse instante as
Incríveis mulheres em febre.
És música suprema,ás das noites
De fogo em nós agora distantes.
Eu precisava desse sorriso agora
Dessa jóia confiante,confidente
das melhores histórias. Por hora
um abraço a tornaria apta ,crente
da nossa memória.Se assim
demoras a encurtar os espaços
comigo .Logo ,o que a maltrata
passará pela porta, unindo o
fogo com falta, deixando-a
disposta ao erro.Agora o perigo
é me sorrir lástimas, qualquer
letra ruim de vida em desgraça.
Demos graça ao esplendor
A meta de servir gozo ás
Próximas horas. Dessa ação
Sorrirá-lhe a pele.
O esforço em evitar o riso
Afeta a tua manhã, mas
Amaciará a nossa tarde.
Contabilizo rompantes
Frescuras e ataques.
Para lhe fazer sorrir
Irei além da minha boa
E mal intencionada vontade .

RIO,20 DE JULHO DE 2011.