sábado, 30 de julho de 2011

Crônica-A solidão bem acompanhada

  Cada pessoa tem o seu mecanismo de lutar contra a solidão. Muitas vezes ,estar só significa entender os mecanismos que atrapalham o seu momento de vida e descobrir maneiras possíveis de superar(ou simplemente pensar sobre)os problemas vivenciados por você. É aquela solidão consentida, desejada a fim de escolher os passos a serem tomados a médio e  a  curto prazo. Eu me tornei cadeirante há dois anos, em decorrência de uma lesão neurológica rara , a chamda Síndrome de Miller Fisher. Uma doença que ataca o cortéx cerebral e compromete os seus movimentos , a sua fala ,assim como a coordenação motora fina. O efeito sobre o corpo é devastador. Em quase um mês internado eu perdi 19 kg, praticamente não mexia o corpo da cabeça para baixo e perdi o volume e a legibilidade da voz.Eu dependia dos outros para fazer tudo.Precisa ser carregado para tomar banho, não conseguia comer sozinho e tive que usar fraldas geriátricas aos 30 anos.Passados dois anos da experiência ,eu utilizo bem o andador,mais ou menos a cadeira de rodas quando vou às ruas, vou ao banheiro sozinho e consigo falar com razoável fluência. A reabilitação vai bem, obrigado.Sinto falta é de passar um tempo maior a sós comigo mesmo.

 É comovente notar o zelo familiar exercido. A experiência de ser refém do próprio corpo, sem ter capacidade de realizar as funções básicas só é suavizada pelo amor de quem está perto, predisposto a lhe afagar através de gestos, atitudes e carinho a sua invalidez momentânea. Eu passei de um grau total de dependência aos estágio em que encontro hoje pelo apoio dos familiares(estão aí incluídos amigos e amigas do peito) , a minha entrega buscando a reabilitação e através da prática da escrita. Eu só pude me dedicar ao blog a partir do momento em que alcancei o direito de poder ficar sozinho em minha casa.Ir ao banheiro ,me vestir e fazer a barba são tarefas possíveis desde o final do ano passado, pelo menos.

  Exercer o diálogo interior é fundamental para estabelecer os erros e acertos da minha reabilitação física ,pessoal e profissional . Devido à lesão por mim sofrida, permitir uma evolução é palpável e tenho conseguido avanços. Atualmente , sinto falta da diálogo interior mantido enquanto vou às ruas. Não toco bem a cadeira de rodas, não posso pensar na vida quando me locomo.A agitação das ruas não permite. Por enquanto , tudo requer a atenção máxima, mas sei se tratar de uma fase de transição essa ansiedade sofrida. O meu ponto escolhido para pensar na vida é um point bem legal ,bem frequentado e passível de fazer e criar as meditações literárias, sentimentais e desaforadas necessárias. Trata-se do Bar Rebouças.

 Conquistado o direito de ir ao Bar Rebouças, quero acessar o hábito de frequentar cinemas , ruas e festas com maior desenvoltura. A fim de exercer isso, o fortalecimento físico e a malícia de andar nas ruas está sendo  levado em conta e exercido.

 Eu escrevo hoje a vocês porque a minha cadeira de rodas está com defeito, certamente teria saído num sábado a noite bonito como o que a Cidade Maravilhosa nos premia hoje. Pelo simples fato de eu poder optar entre ver TV ,navegar na internet e dormir na hora que quiser, comprova todos os ganhos aquiridos durante a minha trajetória.Haverá outros sábados ,cinemas , idas à festas e ,é claro, momentos para poder escrever.O ato da escrita é uma solidão consciente e a leitura do que produzo faz ecoar uma solidão bem acompanhada. Consegui o direito de ficar em casa , a minha cadeira está precisando de reparos e eu me tranquilizo.Logo , logo eu voltarei às ruas.Sem pressa e a menor intenção de pensar na vida em um sábado à noite.

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

2 comentários:

  1. É isso aí meu amigo .... bola pra frente .... ouvir boa música é muito bom também quando se está só ... abs, Guilherme.

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  2. Concordo inteiramente ,maestro. A música é a arte mais nobre , ela nos cadencia ao maior número de emoções possíveis.

    Um abraço,

    André.

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