terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poema : O meu lixo.

O meu lixo
Para Dani Barros e Estamira.

O meu lixo reciclado é belo.Ele fede a cheiros
Preservados de um universo fixo, interno.
O meu lixo é ótimo para intimar entranhas
alheias, ceias .Até para lustre de cenas solitárias
o meu lixo é pagão quando se asseia, vira Cristo
quando desarruma o bordão das paredes arrumadas
da minha casa. Do meu lixo não exijo razão.Dele
presume-se apenas uma inocência doida,hidratada
com uma esponja líquida de jorros. Uma ardência
anti-caprichos esquiva, delira desses escombros sóbrios.
Porque o meu lixo se assina com tombos em que mantive
Fendas de incoerência feito oferendas conscientes.
Estou omisso a qualquer política higiênica.Seguro dos mil
Anseios presentes sigo querendo a inquietude como colheita.
Eu invisto no meu lixo.Desisto da vida certa tão cega
Baseada em uma cartilha acadêmica de partilha histérica .
Eu assisto a muitas calçadas nobres feitas sob a conduta
Anêmica  de uma vida bem preservada. Entre limpar e luzir
o meu lixo é teimoso em conduzir a normalidade descabelada.

RIO, 27 DE DEZEMBRO DE 2011.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Crônica-A visão de raio x do cadeirante que vai às ruas.

  Observar para agir. Destinar a sua capacidade de observação uma importância de radar e  de rede. Essa capacidade de poder colher das coisas vistas significados maiores dos que os fatos verificados parece uma fuga da realidade. Não é. Para quem fica em uma cadeira de rodas o mundo necessita ser preenchido com novas perspectivas, daí a importância de se enxergar além, fornercer uma capacidade de raio x frente ao cotidiano.

 Uma saída para as  ruas deixou de ser uma ação comum desde quando eu me tornei cadeirante. É um olhar curioso, atento e mais disponível para a vida. Há o perigo da minha cadeira virar, ainda toco muito mal a minha cadeira. Então, cada imagem registrada atende a uma chamada urgente do acaso. A atenção redobrada é para proteção , mas a visão de raio x desenvolvida tem um quê do poeta que edita as coisas de uma forma melhor do que elas são.

Eu não me perco no mundo da lua quando estou na rua , esse direito me foi tirado quando me tornei cadeirante. Melhorar o que vejo não é recorrer à fantasia, é reescrever da melhor forma distâncias cujo corpo não chega, mas são espaços a serem desbravados. Primeiramente com o seu olhar aguçado , capaz de entender o que se passa ao redor com nitidez, para depois estabelecer a melhor maneira de interagir nas situações encontradas  nas ruas . É nas ruas o local em que o imprevisível costuma operar. Portanto , é o terreno ideal para praticar a visão de raio x.

Concentrando a capacidade de captar com mais atenção os flagrantes do cotidianos ,eu adquiri uma carta na manga.Ela se refere as sutilezas agora percebidas. Passei a perceber detalhes com uma precisão gogglogiana. As minhas buscas nem sempre tem compromisso com o rigor burocrata dos fatos. A atenção é vigilante, estando agora eu mais aberto aos raios do acaso que sempre nos atingem, uma ida para as ruas tem um gosto de aventura. As chance de queda existem, eu temo mais é pelos ataques de tédio. Embora eu faça mil vezes as mesmas coisas , siga rotinas e seja fiel aos lugares que vá, eu brigo pela originalidade das andanças pelas ruas. Muitas vezes , eu saio e não há feitos extraordinários acontecendo. Afinal, eu não vivo em um filme do Indiana Jones. Poder sair de casa e voltar vivendo um estado de espírito diferente ao voltar para o meu doce lar é estabelecer a circulação de emoções a nos rodearem.

Para a visão de raio x funcionar , não posso deixar as lentes interiores embaçadas. Vem daí o maior desafio. Esse é um assunto para outra crônica. Olho para o dia nublado de hoje e planejo a minha saída para rua.Irei preservar a segurança mantendo a minha coerência desbravadora. Unindo emoção com atenção eu prossigo.

Um abraço PARATODOS !

André Nóbrega.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Poema -Olhar célebre.


Olhar célebre

É bom sentir o meu desejo expresso
Pelo olhar da moça a esconder o meu maior
carrasco.Quando ameno,esse olhar dela é freio
para um ataque.Meu meio ateu a exaltar os deuses
celebrando o fútil entusiasmo.Fica clara em meu
sorriso a intimação lasciva.Sem aquele olhar as minhas
ações justificam os horizontes de um caçador sem faro.
O meu corpo sua tanta decepção com o despreparo das
outras lentes.O frio se apega ao calor expelido pelas fogueiras
fracas de sentido e rasteja taxas para o desperdício consciente.
A fim de saber,aquele olhar me arrasta para uma data célebre
quando é presente . E fúnebre quando se surpreende mirando
qualquer outro espelho.Olhar de esgrima , longe de ser  a chave
de algum enigma. Quando estou refletido por qualquer intenção
íntima tua a paixão me ativa para o risco, abre  e assina com o
acaso uma valiosa cooperação.

RIO,15 DE DEZEMBRO DE 2011.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Crônica- O verão que atinge a todos!!

  O verão do Rio de Janeiro é um acontecimento. Influencia todos os habitantes sediados na Cidade Maravilhosa. O calor não leva em conta a opinião de quem prefere o frio e temperaturas mais amenas , as altas temperaturas atingem a todos. Para os muitos que esperam por essa época do ano,uma questão fundamental é poder usufruir da praia . Eu sempre amei verão e praia. Foi a partir do verão passado que tomei conhecimento do projeto PRAIA PARA TODOS. A valiosa iniciativa permite aos portadores de necessidade especial o direito de frequentarem a praia com todo o conforto , segurança e alegria necessárias para um extraordinário lazer a beira mar. Há uma infra-estrutura eficaz propiciando o tão aguardado reencontro com a praia . O período de atuação do projeto costuma ser aquela oportunidade breve de usufruirmos das maravilhas de um dia de sol assim. Até o último verão ele manteve uma base permanenete no posto 03 da praia da Barra aos sábados, no período compreendido entre dezembro e maio.

O PRAIA PARA TODOS desse verão ainda não começou. Sendo a iniciativa um impulso de transformação pessoal de largo alcance, eu tocarei em alguns pontos dele :

01) O mar concentra propriedades de renovação. O contato com a água purifica , oxigena os indíceis de bem estar e nos faz vislumbrar possibilidades de alegria instantâneas. Portanto, para as pessoas que pensam e conseguem realizar tal empreendimento , aqui vai um mar de calorosas palmas;

02)As atividades poliesportivas monitoradas pela competente equipe que participa das ações da empreitada impressiona  pela entrega .Além disso, as intervenções promovidas por músicos convidados pelos organizadores ,as gincanas realizadas para se sortear utensílios fundamentais aos cadeirantes e o bom humor manifestado na realização pelos autores dessas atitudes produzem uma corrente solidária. Isso contagia o público alvo , que normalmente seria privado da chance de estabelecer com o espaço (anti-democrático para os deficientes) da praia. São gestos que alegram os pais , os parentes e cônjugues de quem  nos acompanha e ,dessa maneira, produz momentos especiais . Especial na dimensão que qualquer deficiente gostaria de atribuir à palavra;

03)O PRAIA PARA TODOS está crescendo . Acontece que manter essa infra-estrutura requer planejamento , a viabilização de parcerias e apoios a fim de se manter o direito conseguido pelos idealizadores dessa obra essencial.

  Uma vez apresentadas essas colocações  , agora eu estendo a quem estiver me lendo um pedido...

 Mergulhe nessa praia movida pelo fortalecimento da cidadania e que é um marco para quem a frequenta. Antes do verão de sol a pino começar,  conheça o site do movimento(http://www.praiaparatodos.com.br/) .

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica- Tesão cadeirante.

  Se para o cadeirante faltam pernas para o direito de ir e vir , isso de cara gera um problema quando o assunto é paquerar , azarar e ganhar alguém.  A falta de mobilidade traz transtornos excessivos para o dia dia do cadeirante porque a rua passa a ser um palco perigoso. Por isso, o olhar desenvolvido para identificar buracos, desníveis na calçada é eficaz também ao identificar com precisão o que se ocorre ao seu redor. Com a cadeira em  movimento, a atenção é para garantir segurança ao se locomover. A cadeira estando parada o  olhar vigilante permanece com você, só que quem escolhe os alvos é o cadeirante.

 Eu passei a gostar muito de frequentar bares após a minha lesão. O bar nivela para o meu ponto de vista as pessoas dispostas a papearem comigo. Nesses momentos, tudo fica em pé de igualdade , o valor da boa conversa é um bom cartão de visitas para se seduzir alguém. Mesmo tendo a voz semelhante ao do Pato  Donald´s ,eu melhorei o meu nível de conversação , sabendo um pouco mais sobre a hora de falar , escutar e soltar piadinhas infames. A atenção que deposito para a mulher que desejo é total. Eu isolo todo o barulho de buzinas vindos das rua e sinalizo para o que ela estiver falando. Assim, a conversa progride , as bases para um entendimento ao que está sendo dito(e o que está sendo mostrado pelo riso e pelo olhar) são um terreno para fecundar emoções.

 Essa atenção total é transferida para o sexo , também.É preciso uma confiança extrema na parceira , se não eu nem consigo chegar à cama para consumar o ato com uma segurança mínima. Uma vez estando lá , o corpo segue caminhos que sabe das limitações físicas , mas que valoriza muito mais os atalhos a fim de se partilhar carinho com mais consistência.Não há pressa para se consumar nada , o nível de confiança estabelecido permite desfrutar melhor do tempo para se amar.

 O tesão cadeirante é uma lente capaz de enxergar além , é um sentimento capaz de cavar nas dificuldades de locomoção  uma economia precisa e sadia na conversa , nos risos e compromissos firmados. O tesão cadeirante anda lado a lado com o riso , concentra pensamentos sadios quando precisamos nos levantar ao despertarmos de noites mal dormidas . O tesão cadeirante é um amor incondicional pela vida que precisa ser reforçado sempre. Pois , para quem é cadeirante a invalidez maior é ficar parado, à espera de acontecimentos e não se moblizar internamente.

O tesão cadeirante é prosseguir sempre.

Um abraço PARATODOS.

André Nóbrega.