terça-feira, 26 de julho de 2011

Crônica- As ruas do Rio ,o escritório que eu participo de cadeira

   A cultura de rua no Rio de Janeiro é um patrimônio rico , vinculado ao nosso clima e a tendência que a cidade convoca os seus habitantes a descobrirem a cidade. Um dia de sol límpido não melhora o mundo, mas nos faz dar uma espiada ao redor.Circular e permitir o encontro com pessoas a quem você não programou se deparar , mas que a partir do reencontro surjam possibilidades para um chope, um cinema e um convite de trabalho até.Em decorrência da minha lesão neurológica os meus movimentos básicos ficaram comprometidos, assim como a fala e o acesso à cultura de rua do Rio.

  Durante o meu primeiro verão após a lesão a troca da praia pela fisioterapia foi compensadora do ponto de vista clínico.O meu suor possibilitou melhoras consideráveis , a dedicação foi extrema. Não poder circular pelas ruas onde moro, falar sobre futebol com conhecidos, cumprimentar o jornaleiro e ir à padaria eram possibilidades distantes .Passar um verão no Rio de Janeiro sem vivê-lo como você o viveu em trinta anos de vida foi necessário. Eu saía somente para ir à clínica de fisioterapia. O meu erro foi viver exclusivamente para a reabilitação , deixar de lado os chamados da vida.

 Por um tempo, eu deixei de frequentar a rua por cagaço. Quando eu passei a apresentar condições para interagir socialmente foi chato explicar a quem encontrasse os fatos ocorridos.Chato porque a minha voz lembrava a do Pato Donald e ao relatar a experiência eu tornava a presenciar alguns sentimentos . A família foi a minha base, a minha bússula , o meu mapa permanente a espantar qualquer ameaça de precipício.Eu devo a outros três fatores a ajudar em meu processo de ressocialização.Vou citá-los por ordem cronológica: passar a frequentar o Bar Rebouças , ser paciente da Rede Sarah e conhecer o Projeto PRAIA PARA TODOS.

  Eu passei a frequentar o Bar Rebouças pela simpatia e humanidade de uma grande amiga minha .Foi durante a Copa do Mundo de 2010. Eu estava deslocado ,olhando aquela galera bonita farreando e achando que aquilo não era comigo.Na  época , eu ainda necessitava dos cuidados de um assistente de enfermagem para sair, e a  minha amiga sentiu a minha vontade de participar daquela celebração e , assim, fui apresentado ao Bar Rebouças.Se você achar exagerado o relato , confira você  mesmo indo ao Bar.Pode me chamar , inclusive. Uma vez iniciada a reabilitação social , tive facilitada a minha reabilitação integral pela Rede Sarah.

  Ao conhecer o trabalho , a infraestrutura e , principalmente, a paixão das pessoas da Rede Sarah , eu redobrei a minha intensidade visando a reabilitação e adicionei largas doses de entusiasmo ao meu caminho.Em dois meses , eu realizei o máximo de atividades ao meu alcance. Além da fisioterapia, tive aulas de como tocar a cadeira, fonoaudiologia, natação,oficina de artes, expressão corporal e fui apresentado ao GIP,o grupo de terapia intensiva destinado às pessoas com lesão adquirida e pessoas portadoras de necessidades congênitas.O grupo é admistrado por duas brilhantes profissionais; uma pedagoga e uma psicóloga.Duas mulheres fortes ,capazes de admistrarem as questões expostas pelo grupo.Todos saiam transformados de alguma maneira com as discussões evocadas.Nesse espaço falamos sobre as dificuldades do dia a dia e de como poderíamos viver respeitando à realidade de cada um.Eu aprendi demais com o GIP, eu me fortaleço quando volto ao Sarah a fim de fazer exames e rever os amigos feitos na instituição.

 O projeto PRAIA PARA TODOS foi duplamente importante.Por possibilitar o meu reencontro com o mar e , mais ainda , conhecer pessoas bem humoradas,conscientes e que me obrigaram a abandonar o estigma cultivado por mim de cadeirante coitadinho.

  Hoje , eu começo a redescobrir as ruas. A maneira de me locomover mudou radicalmente, o jeito de observar e falar com as pessoas, também. O apelo das ruas é irresistível .Graças ao suporte dado pela Rede Sarah, o ineterrupto afago familiar ,dos amigos e amigos que me dão muita força para usufruir o bar, marcar um cinema e discutir futebol, eu ganho fôlego para percorrer os mares que virão.

  Um abraço PARATODOS!!

  André Nóbrega.

2 comentários:

  1. Bom dia!!!!
    André, muito gratificante ler esse relato. Estou na torcida para que vc continue suas redescobertas! Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Ana,

    obrigado pelo incentivo . Com o apoio de vocês eu prossigo mais forte.

    O verão vai chegar em breve e O PRAIA PARA TODOS voltará ainda melhor.

    Um beijo,

    André.

    ResponderExcluir