sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Crônica - Simplesmente complicado.

  A Síndrome de Miller Fisher se caracteriza pelos danos causados à mobilidade , a maneira como muda a sua fala e pela limitação causada à coordenação motora fina. Os danos ao corpo são bem agressivos , a minha evolução em relação ao quadro em que há pouco estive é nítida. O trabalho físico , a fisioterapia bem direcionada ,vem alcançando êxitos. Voltar a andar tem sido um objetivo possível atualmente.Eu posso classficar o meu momento atual como sendo o de uma transição. Saio de uma vivência de cadeirante para readiquirir uma demorada autonomia em meu andar. A cadeira é o meio de transporte necessário , ainda. A disciplina usada em dois anos e meio de fisioterapia esbarra na ansiedade em voltar a andar o quanto antes.

 Eu sou muito agradecido pela oportunidade de reversão do meu quadro físico . A Síndrome de Miller Fisher depende muito mais de um esforço contínuo em busca da reabilitação pretendida. O que me pertuba é utilizar a mesma ponderação , equilíbrio e confiança empreendidos na fisioterapia para a minha vivência diária. Clinicamente , a melhora é valiosa. No entanto, não poder fazer agora coisas que em meus 30 anos de vida eu fui capaz( e que há dois anos são ações complicadas) testam a minha limitada capacidade de tranquilidade disponível. Conseguir atravessar a rua com o andador é um ganho , sem dúvida. Tentar subir escadas  , pulando os degraus racionais para se recondicionar é imprudente. Convém agora saber bem  o que posso fazer muito bem ,levando em conta a margem de segurança. Basta chover para a locomoção se complicar. Além de inviabilizar o andador, isso não me dá garantias de não levar um tombo usando a cadeira de rodas. E mesmo chovendo , eu continuo a tocar a minha cadeira pelas ruas onde moro.

  O momento em que eu vi a Lagoa Rodrigo de Freitas de pé novamente foi mágico , ocorreu há mais de um mês atrás. Falta muita coisa para  eu conseguir dar meia volta nela . Para isso ocorrer , devo priorizar os ganhos obtidos desde 2009 com toda a gama de carcaterísticas que possuo. Dando o mesmo peso aos defeitos e qualidades.Saber como utilizar o que tenho de melhor e de pior para processá-los ao meu favor . Controlar a ansiedade para limpar os caminhos das necessidades referentes a cada etapa do processo. É simplesmente complicado. Por isso mesmo , vale à pena prosseguir.

 Um abraço PARATODOS !

 André Nóbrega.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poema-Conversas Paralelas




Conversas paralelas


O telefone do vizinho toca.Sons sem conforto
inicialmente são compartilhados. Nomes de favores
estão sugeridos.Uma prosa é iniciada e eu estou novo
para o sono. Os anos de diálogos comigo à noite
se fundem à risada contagiosa do papo ao lado.

Esse ato me lembra da penugem da mulher distante
mas o catálogo de prosas percebidas está velho.
As visões do que vivo confundem ,a alegria da voz
do papo íntimo do vizinho é um evangelho mórbido.
Jogar o lixo para fora de casa talvez resolva algo .
Omisso até para a estrada do frio o meu corpo 
enfim engata o pavio da lucidez.  

Eu não confio nas conversas paralelas. Magro de tanta
acidez eu prossigo.O destino de uma conversa intriga
porque desfez o meu silêncio.Depois ,hei de bater nessa
porta cuja serenidade suja o bem senso cheio de dor
e me renega . Com isso,o tempo do desabafo vira uma
pedra contida. Dos pés sem corrida retenho o máximo
dessa existência pouco vivida. 

O telefone fora do gancho da minha casa também
me desafia.Longe do dia, enumero nomes para uma
conversa acolhedora.A minha memória ingrata pára
qualquer carinho, não perdoa um descanso sereno.
O diálogo sorridente do vizinho e a minha masmorra
insone.É o espetáculo evidente sem alívio ou amanso
para qualquer disposição salvadora.

RIO,14 DE NOVEMBRO DE 2011.

domingo, 6 de novembro de 2011

Poema - A voz que é colheita

A voz que é colheita


Essa voz de festa próxima
Me convoca ao desvario,sabes?
Dessa forma destemida de desejo
Eu lhe desafio a um compromisso
indócil. Quando você acumular
falta ,afague um vício mais nobre.
Das suposições, traga consigo
o risco nos murmúrios mais triviais.
Daí, o que eu persigo como meta não
Será ata do vagar inseguro. Data
da vontade profana a esperada festa
pelo mergulho teu.Assim, a gente
desfoca as reações desse confisco
 injusto .Daquele céu aquecido de papel
não haverá passo seguro sem um
sadio extravaso. Esse teu rosto tem
o meu instinto definido. O posto de quem
revoga ações do presente e não atende
ao corpo, me mantém ilhado a um nó sádico.
Serpente do medo é supor,somente. Nada
de vestes de mármore.Me interessam os teus
artifícios ondulados em viva colisão feminina.
Dispenso as contra-provas desviando do
Caminho o indicio ao vagar pacífico.Quero- te
aqui sendo a mola que arisca rindo horizontes
comigo em um xote contínuo ,elevando escalas.
Acima da dúvida assola a tua sorte.Ela risca
o nosso destino intima fontes e provas
insuspeitas.Cedo ou tarde,a tua voz me vacina
daqueles mares tranqüilos.São tolos os meus
inquilinos a aceitarem os prazeres tão ocos
de você.Os motivos da colheita são decisivos
 os da rejeição são sons estéreis de tons
e momentos outros.Eu cativo o fomento evidente
a uma nova canção.Crente das trovas e dos
fragmentos à espreita, a paixão rejeita os meio termos.
Se a tua voz enfeita os silêncios, ela enfeitiça
os nossos ermos tempos.Constantes ou passantes
o importante é nunca estarmos desatentos.

RIO, 05 DE NOVEMBRO DE 2011.