quarta-feira, 4 de julho de 2012

Último post do blog.

  No final de março do ano passado , o meu cenário pessoal era desesperador. Estava ainda sob os efeitos do prognóstico de uma neurologista.Médica cujas palavras taxativas foram as  de que as chances de eu voltar a andar seriam nulas. Naquela época,faltava realinhar outros objetivos à existência. A vida se resumia à fisioterapia,voltar a andar era o objetivo almejado,sentido e inscrito na totalidade das minhas ações. Outros neurologistas apostavam na minha reabilitação,voltar a andar exigiria muita dedicação, mas pelo fato da neurologista que proferiu esta sentença  ser vinculada a uma famosa rede de reabilitação, o meu ânimo,a minha vontade de lutar sofreu um abalo. Fiquei muitos meses perdido, achei a idéia de escrever um blog pertinente. O título e a foto já incidiam uma reação.

  Passados mais de um ano e mais de 60 postagens, o panorama de vida é outro. A fisioterapia demoliu a infeliz sentença da neurologista,voltar a andar se estabelece como um objetivo plenamente possível, e a cadeira de rodas não é uma prisão que exclui o cadeirante do processo da vida. Escrevendo,conhecendo pessoas empenhadas em darem aos deficientes físicos possibilidades de crescimento pessoal,luta e afirmação aos direitos por nós conquistados ,houve um fortalecimento da moral e do julgamento que detinha de mim. Com a vida estática,as suas ações tornam-se inválidas,devo muito a galera do PRAIA PARA TODOS pela injeção de ânimo feita e por depenar a pena que sentia de mim mesmo. Aos familiares, devo tudo. No período compreendido entre a lesão, as idas e vindas a médicos, a realização de exames e o apoio integral para a maratona empreendida pela fisioterapia,eu não chegaria muito longe.

 No entanto, passos consistentes têm sido dados.São progressos animadores na fisioterapia,voltar a fazer uma faculdade onde fui bem acolhido,assim como uma vontade incondicional de evoluir e lutar pela acessibilidade dos meus irmãos deficientes estão inscritos comigo.Não há a necessidade de um blog para partilhar sofrimentos, avança agora um apelo incontrolável de incendiar a alma ardente por outras vias.

  Foi excepcional manter através de poemas e crônicas um termômetro das sensações asfixiadas,na tocaia por uma expansão da alma. Os primeiros passos foram dados, há mais ou menos um mês recebi do meu fisioterapeuta a notícia que poderei iniciar o tratamento para começar a andar com muletas. O semestre na faculdade terminou,fecundando uma rotina de estudos,contatos com uma juventude elegante e sincera altamente motivadora. Então, o percurso iniciado pelo blog no dia 23 de março de 2011 encontra nesta agradável tarde de 04 de julho um sentimento de profunda gratidão.Por entre tantos caminhos e flagelos expostos, para enfim congregar o corpo , a mente e o coração postos em definitivo a caminhar, mirar adiante.

UM ABRAÇO APERTADO PARATODOS!

André Nóbrega.

domingo, 20 de maio de 2012

Crônica- Ser um pai eficiente.

    Algumas reflexões surgem quando menos se espera, quando estamos distraídos e por algum desvio de rota o momento até então sugerido o atinge, modificando a ação presente e o faz parar e fazer pensar. Há cerca de duas semanas o clima no buteco que eu sempre frequento conjugava festa, por motivações claras. Era sexta-feira, o Rio de Janeiro  firmava uma lua cheia com pessoas plenas em partilhar prazer , amenizar a semana e era nesta sintonia  com a qual a noite do Bar Rebouças prosseguia. A mesa ao meu lado estava habitada por belas e jovens mulheres a colocarem em sua conversa temas diversos, desde comentários sobre os shows até eventualidades do trabalho que as deliciosas balzaquianas me faziam dirigir olhares e ouvidos para o que se passava entre elas. Da minha mesa, cercado pelos meus amigos eu fiquei momentaneamente cego e surdo para os papos sobre futebol , as essenciais piadas sacanas semamamente trocadas para se fixar àquele perfumado grupo. Como a Rua  do Bar Rebouças estava movimentada, da rua surgiu o elemento capaz de modificar tal imersão contemplativa.

 Passou pela calçada um casal que regulava em idade e espírito com as mulheres da cobiçada mesa . Junto ao casal, vinha uma menina de quatro anos, tão graciosa quanto tímida. O  pai da menina vinha de mãos dadas com a sua filha. O homem já chegou cumprimentando uma das mulheres da mesa, enquanto a mãe da linda criança se juntava ao grupo. A presença da linda menina evocou um frenesi maternal, tão bonito e espontâneo que fez converter uma mobilização das intrépidas balzaquianas para afagar a garotinha. Beijos, brincadeiras feitas com a intenção de celebrar a inesperada visita foram feitas.A timidez da menina passou, mudou também a minha perspectiva diante da situação observada.

 De repente, o grupo das lindas mulheres deixam as vocações de mãe aflorarem e o orgulho estampado do pai da linda menina me chamou atenção. O único homem do grupo regulava em idade comigo, o que fez destacar a legítima alegria da sua paternidade foi uma diferença circunstancial. O cara estava em pé a partilhar sorriso com a mulher abraçado junto a ele , estava ele ali comemorando o resultado daquela união manifestado por aquela joia de quatro anos. Mesmo estando perto da mesa eu fiquei muito distante daquele universo. O fato de eu estar em uma cadeira de rodas trouxe um peso ao momento, que da iminência de uma discreta paquera me fez formular intimamente uma questão:que tipo de pai eu seria hoje, precisando ainda usar de uma cadeira de rodas para utilizar a maioria das minhas funções?

 Um conjunto das imagens praxe dos programas feitos por um pai com o filho(ou filha) me invadiram. Então, foi a partir deste efêmero mecanismo de projeção que eu comecei a me imaginar levando a minha cria ao Maracanã, ao cinema, para viajar e tudo o que tradicionalmente imaginamos que um pai deva fazer. O meu pai fez tudo isto comigo,mas  naquela atmosfera do bar eu tive uma bad trip. Pus-me a imaginar a realização das incumbências de um pai tradicional tendo que tocar uma cadeira de rodas. E o pior, andei conjuguei tais pensamentos da pior maneira possível. Eu imaginei que uma deficiência pudesse compremeter o exercício de uma paternidade eficiente. Foi tamanho o abalo que eu pedi ao Jorginho, eleito o melhor garçom de Bar do Rio, a minha conta e parti para a minha casa.

  Passadas quase duas semanas soa exagerada a intensidade negativa da minha interpretação quanto ao ser ou não um bom pai. Mesmo assim, tal sensação não foi inválida, pelo contrário. Não demorou muito para eu puxar da memória feita por exemplos próximos de pais cadeirantes presentes e atuantes e outros tantos exemplos irritantes de pais andantes e ausentes. E além do mais, o Maracanã é um canteiro de obras, para se assistir a um filme a presença física não se faz necessária e para poder viajar há muito mais condições de passeio do que na minha época de filho. Estou bem mais tranquilo, certo de que encontrarei uma boa maneira de exercer a paternidade.

  Quero muito encontrar a mesa com as lindas balzacas, puxar conversa e mencionar o jeito delas no fino trato com as crianças. Por isso é que eu ''estaciono'' a minha cadeira no Bar Rebouças, o buteco onde o acaso opera com força e graça, seja por caminhos tradicionais ou não...

 Um abraço PARATODOS !!

Poema- O tom perverso do nosso contato




O tom perverso que predomina em nosso contato





Quero os seus gestos firmes e distantes

em um regime voraz. Veto qualquer alcance

de paz pela sua coxa. Por que incide nas

pretensões de moça as nuances de diaba.

Tenho diante de mim alguém com ações

contagiantes ,e os peitos apontados para

o desdém . Bem antes de qualquer pretensão

futura, esta mulher congela em sua boca

as minhas palavras. O que ela escuta apura

o quão débil é a ternura frente ao desejo.

Acima de tudo, a minha amiga requer crédito

para o seu solo . Sem tempo ao estudo,

seguimos inéditos para o amanhã que aterriza .

Quanto mais imprecisa é a demora em revê-la

menos sã fica a minha glória. Amando mais a carne

dela torno indecisa a minha história. Com cismas e

descréditos , tanta faz o tom perverso que contamina

o nosso contato. Com ela ao meu lado fica evidente

Como é bom termos nos excessos os meios para

sermos sólidos no extravaso e leigos quando projetamos

alguns assuntos. Nenhum ato romântico nos espera,

a brasa segue desmatando primaveras e o breu atento

ao cântico desta esfera falha e fêmea a me doutrinar.

Basta estarmos em conjunto para os segundos produzirem

fagulhas  e a monotonia se assanha até erradicar-se .

Figura efêmera e essencial, tolo é quem banha sentimento

enquanto você goza do meu universo confuso uma nervosa

pretensão romântica .Perdura o perfume da sua pele,só incomoda

a ação escrava, nova e ávida,sedenta pelos teus gestos.

Sigamos em frente, minha querida  carrasca.Contigo a percepção

 vulcânica produz emoções intensas,mas contrasta com um presente

de sobras cinzas.Incendiado ainda eu prossigo cedendo braço a tais

desavenças.O que tenho contigo atende às necessidades mais primitivas

mas faz do romance um embaraço , constrói uma saudade imperativa

que faz a minha sede proliferar presa a uma incômoda doença.



RIO,20 DE MAIO DE 2012.

domingo, 15 de abril de 2012

Poema : É dela


É dela

 Espio o suspiro dela porque sozinho o ar é livre,
demarca e não inibe. É dela o estilo sutil que congela
e embaça a minha estrada . Talvez a janela considere
mais a vidraça do que a espera íntima,não sei...
Espero dela tanto uma primavera quanto uma queda
sincera. Por invalidez afetiva entende-se como medo
covarde, do rei mendigando mês a mês um novo
palácio , quando o fato mais é obvio é construir
com ela uma história outra vez...

RIO, 15 DE ABRIL DE 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Crônica: A inclusão em cima da faixa .

  Recentemente, eu tive o privilégio de voltar a estudar. O estudo dirigido em si é enobrecedor, e , quando ele se incorpora a uma vivência universária abrangente, torna-se espetacular. Há pouco mais de uma semana , sou calouro do curso de Publicidade e Propaganda da FACHA( Faculdades Integradas Hélio Alonso ) e o curto período já supera todas as minhas expectativas acumuladas à respeito dessa experiência.

 Para começar, a faculdade é toda projetada a fim de propocionar estrutura, conforto e segurança aos portadores de necessidade especial. Há rampas , elevador específico para o transporte dos cadeirantes, mesa em sala de aula adaptada e banheiro especial . Mais do que isso, na FACHA todos os funcionários são naturalmente gentis e participativos  . Além dos benefícios propiciados pelo saber nas aulas e pela fundamental troca de experiências entre os alunos, há um item motivador amplamente sentido nesse reingresso universitário: a capacidade de inclusão manifestada em cada canto da universidade, um chamado contra  a imobilidade da qual qualquer portador de nececessidade especial já sentiu. Eu continuo sendo tão deficiente de quando ingressei na faculdade, agora está sendo fornecido um manancial teórico e , sobretudo, um caloroso apoio humano ,constatado pelo meus colegas de curso que me permite ser eficiente.

  A cada ida à faculdade eu tomo injeções de otimismo na veia. A melhor hora do meu dia tem sido a que antecede o momento de chegada à FACHA. Não há no percurso feito para se chegar à faculdade um apego a um ritual determinado.Existe a constatação que estou chegando a um local onde a cordialidade, o notório e elevado saber e a ação solidária me esperam, pois isso é uma condição do local. Fico gratificado por poder  sentir desde o primeiro dia do trote uma ligação direta com a experiência universitária. Isso me dá muita força para tocar a minha vida, seguir em frente e encarar as ruas esburacadas do Rio de Janeiro com mais disposição. 

 Peço desculpas aos que exigem parcialidade e moderação. Nesse momento , o controle absoluto da emoção sobre a razão é bloqueado por uma justa causa. Agora, estou totalmente aFAICHOnado !!

  Um abraço PARA TODOS !!

                                                                                              

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Poema: Pássaro Negro.

Pássaro negro



Pássaro negro , nada mais áspero do que planar

sem horizontes. Por isso, em segredo, minha carne

hospeda sonhos prósperos. Porque sou íntegro quando

lhe escrevo nesse rasante ótico de natureza restrita,ainda.

Estou farto do alarme camuflado de óbito em meio a tantos

desarmes, pássaro negro. Agora percebo o lampejo da tinta forte,

o alarme vasto sobrevoando apego,sem cheiro da carne cínica

e crua a atrair impureza. Com sorte ou não, possuo um porte

trôpego de Apolo vesgo circulando pela vida nova. A vida

se insinua com provas a me convencer de voar. É um parecer

sutil de Ícaro. O solo é o mesmo, meu pássaro...O céu hospeda

íntimo o meu momento farto, outrora mínimo. Não sei dizer como

de um apêndice as asas do meu vôo vigente,óbvio e crente ,

 viraram pedra. Confirmo o quanto viajo melhor, apenas sei

o tipo de ave que sou, pássaro. De tudo, valeu a fim de me convocar

outros rostos. Não o de um corvo,muito menos o de uma águia.

Talvez, todo o desafogo me obrigue  a continuar essa saga incoerente

com o fôlego de luta  e o despertar de uma Fênix...



                                               RIO, 20 DE JANEIRO DE 2012.                                              



ANDRÉ NÓBREGA

sábado, 28 de janeiro de 2012

Poema- Para que beijá-la inteira ?

Para que beijá-la inteira ?


Vou beijá-la na face como se amasse
a tua sorte. Dou um braço pelo seu
sentimento porque beijá-la nas partes
difíceis , driblando impasses é um ato
insano e santo. Ao beijar o teu pescoço
eu renovo qualquer passado dos enganos.
Beijo os teus seios mirando o útero, nos
terremotos súbitos a lhe trepidar, urgentes.
Porque sigo ávido entre as palavras gentis
mais animal do que gente.Despedir-me agora
sem beijá-la evocando mortes instantâneas será
o provável enredo.O apego só navega com freio.
Beijá-la inteira ,consigo.Acompanhar teus anseios
sem criar sonhos nessa composição nos maltrata.
Já áspero dos carinhos murmuro contigo uma poesia
tola.Ao sair do quarto ,todos os caminhos projetam
tempo.A ansiedade conjuga no corpo o seu templo .
Volto assim,a conviver com  a mesma pessoa.

RIO, 28 DE JANEIRO DE 2012.