quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crônica - A bactéria

 Quem cala nem sempre consente. Aquela pessoa capaz de pensar bem e planejar os seus passos , age com mais consistência. Eu tenho uma natureza reativa , muitas vezes condicionada ao exagero.Fazer uso dessa força foi valioso para suportar a carga de exercícios exigida pela fisioterapia. Sem me dar conta , eu adquiri um rigor excessivo , bom para a reabilitação e péssimo para o resto.

 Hoje eu sei que grande parte da minha vontade em me recuperar veio da gratuidade do fato que ocasionou a minha lesão.A partir de uma operação de apendicite mal feita,além de uma inteiração medicamentosa provocada por um antidepressivo que tomava e um remédio pós operatório, a minha imunidade baixou radicalmente. Eu fui a vítima ideal para uma bactéria danosa fazer a festa com o meu organismo. Em menos de duas semanas após a operação de apendicite o meu corpo já não se movia e a minha voz foi para o espaço. A chance de tais incidentes se alinharem ocorre entre 1 a cada 100.000 pessoas, conforme o neurologista que me assisti revelou.

 Uma vez iniciado o processo de fisioterapia, eu incorporei todo o ódio acumulado diante da situação e me lancei em busca do meu objetivo; voltar a andar. Se a finalidade é válida , a maneira encontrada para demonstrar isso, não. A raiva foi importante para sedimentar a carga de exercícios com a qual eu precisava ser submetido.Bastava acabar a sessão de fisioterapia e havia a mistura de sentimentos negativos sobre mim. Eu me sentia acometido por uma injustiça, aprisionado pela falta de rotina do momento devido à minha movimentação precária e começei a alimentar uma bactéria pior da que permitiu a lesão neurológica se fez instalar em mim; o rancor pela vida.

 Essa bactéria começou a me incomodar , pertubava o meu sono e não permitia enxergar em um espaço de 24 horas muitas possibilidades de celebrar o que fosse. A família , namoricos e visitas não travaram o avanço do meu problema com o mundo, pois eu fui um imã para o pessimismo .Durante muito tempo o sorriso deu lugar à expressão séria, com o olhar fixo a cuspir ódio e a testa franzida. É o traquejo mais óbvio das pessoas descontentes com o mundo . Eu acatei esse comportamento sem ter noção das consequências de tal prática.

 Hoje , consigo progressos na fisioterapia.  A bactéria danosa está sendo combatida , eu preciso me atentar à outra bactéria. Eu com certeza a alimentei com o vírus insano de algumas atitudes desmedidas. Isso sempre existiu em em mim e deve ser atacado com anticorpos capazes de me alimentarem naturalmente.A começar pelo compromisso em substituir a vocação ao radicalismo, buscar o riso e tentar inspirar poesia de ares poluídos pela ira.

 Buscar o caminho do centro e da ponderação talvez seja mais difícil do que andar para mim. No entanto , são dois objetivos nobres, merecedores de uma  maneira de atuação que saiba equilibrar o rigor quando ele for exigido e a beleza que se tratando de matéria de vida, nenhuma bactéria de você se agoniza.

 Um abraço PARATODOS,

 André Nóbrega.

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