segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Crônica-A visão de raio x do cadeirante que vai às ruas.

  Observar para agir. Destinar a sua capacidade de observação uma importância de radar e  de rede. Essa capacidade de poder colher das coisas vistas significados maiores dos que os fatos verificados parece uma fuga da realidade. Não é. Para quem fica em uma cadeira de rodas o mundo necessita ser preenchido com novas perspectivas, daí a importância de se enxergar além, fornercer uma capacidade de raio x frente ao cotidiano.

 Uma saída para as  ruas deixou de ser uma ação comum desde quando eu me tornei cadeirante. É um olhar curioso, atento e mais disponível para a vida. Há o perigo da minha cadeira virar, ainda toco muito mal a minha cadeira. Então, cada imagem registrada atende a uma chamada urgente do acaso. A atenção redobrada é para proteção , mas a visão de raio x desenvolvida tem um quê do poeta que edita as coisas de uma forma melhor do que elas são.

Eu não me perco no mundo da lua quando estou na rua , esse direito me foi tirado quando me tornei cadeirante. Melhorar o que vejo não é recorrer à fantasia, é reescrever da melhor forma distâncias cujo corpo não chega, mas são espaços a serem desbravados. Primeiramente com o seu olhar aguçado , capaz de entender o que se passa ao redor com nitidez, para depois estabelecer a melhor maneira de interagir nas situações encontradas  nas ruas . É nas ruas o local em que o imprevisível costuma operar. Portanto , é o terreno ideal para praticar a visão de raio x.

Concentrando a capacidade de captar com mais atenção os flagrantes do cotidianos ,eu adquiri uma carta na manga.Ela se refere as sutilezas agora percebidas. Passei a perceber detalhes com uma precisão gogglogiana. As minhas buscas nem sempre tem compromisso com o rigor burocrata dos fatos. A atenção é vigilante, estando agora eu mais aberto aos raios do acaso que sempre nos atingem, uma ida para as ruas tem um gosto de aventura. As chance de queda existem, eu temo mais é pelos ataques de tédio. Embora eu faça mil vezes as mesmas coisas , siga rotinas e seja fiel aos lugares que vá, eu brigo pela originalidade das andanças pelas ruas. Muitas vezes , eu saio e não há feitos extraordinários acontecendo. Afinal, eu não vivo em um filme do Indiana Jones. Poder sair de casa e voltar vivendo um estado de espírito diferente ao voltar para o meu doce lar é estabelecer a circulação de emoções a nos rodearem.

Para a visão de raio x funcionar , não posso deixar as lentes interiores embaçadas. Vem daí o maior desafio. Esse é um assunto para outra crônica. Olho para o dia nublado de hoje e planejo a minha saída para rua.Irei preservar a segurança mantendo a minha coerência desbravadora. Unindo emoção com atenção eu prossigo.

Um abraço PARATODOS !

André Nóbrega.


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