terça-feira, 29 de março de 2011

A minha primeira vez após a lesão!

Sexo envolve tabu.Essa ligação se modifica,transfigura e acontece na proporção de todos nós .Quero dizer, o assunto é espinhoso.Para um cadeirante , a sexualidade passa pela redefinição do corpo e da identidade.Eu tive a minha lesão com trinta anos,numa idade em que se pressupõe uma quilometragem extensa por parte dos homens.Eu não a tinha,não a tenho.Por motivos,complexos,cagaços mil...
  O período logo após a lesão decepciona mesmo quem quer estar junto a você, lhe abraçar. As pessoas tentam lhe animar carregando afagos, mas quando as visitas se despedem e a noite cai você hospeda o filme de um passado recente ,com vigor .Dormir é muito complicado.
 Eu organizei alguns jantares em casa,menos oficiosos e mais íntimos.Nessa época o contato com a rua era feito apenas para fazer fisioterapia.Uma amiga veio a dois desses jantares e a energia dela trazia um toque de Sherazade ,dos momentos aos quais eu completava as histórias divertidas dela esquecendo a minha imobilidade.Mesmo com o conforto,segurança eu fugia do mundo e acolhi a  cadeira de rodas como sendo a minha melhor amiga.Ao final de um dos jantares,minha amiga disse :
-Faço questão de retribuir a gentileza.Na próxima o jantar é lá em casa.-Eu sorri,confundindo o convite com caridade.
No dia marcado eu estava lá,o prédio era excelente em termos de acessibilidade.Estava nervoso ,mas não com o jantar .Era uma fatalidade, como se  eu estivesse ali para provar que era invisível.Apenas dar um passeio condicionado pela vergonha dos olhares a mim dirigidos.Baixa auto estima e castração desapareceram quando vi o sorriso encantador dela e um vestido simples,mas fixado em minha memória para se tornar inesquecível.
 O jantar começou arraigado por formalidades,eu não me permitia relaxar.A coordenação motora falha não me deixava beber,pegar talhares. A minha amiga me ajudou,trazendo o resto da lasanha congelada na minha boca.Rimos.
 A descontração se prolongou ao ponto de sacanearmos os programas de TV,eu relembrar o meu talento para fazê-la rir.Olhá-la rir me fortalecia.Ela enrubesceu e os  movimentos seguintes ativaram carícias,prolongaram até uma interrupção.
-Eu preciso ligar para casa,avisar a minha mãe.
-Você pode dormir aqui.
  A adaptação ao sexo limita as posições,mas não inibe descobertas.O meu olhar,tato incidiram caminhos pródigos.Não havia poesia,nem a necessidade da performance apimentada,rica e gozosa .Houve acima de tudo, vida.
No dia seguinte ,já no táxi a caminho de casa percebi o quanto me tolhi de prazeres em trinta dos meus comportados anos.Eu cravava os destinos amorosos na insegurança como um castigo.Agora eu queria aproveitar muito mais,me recusando a sair da condição de figurante e fortalecido para prosseguir

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