terça-feira, 21 de junho de 2011

Crônica- Novas estradas

 O processo de reabilitação para um cadeirante não é medido somente pela quantidade de suor gasto, o esforço empenhado que visa um recondicionamento físico. Todo o sacrifício será insuficiente se não vier acompanhado por um esforço permanente de autocontrole. Não é uma regra , um conselho, apenas um relato comum ao meu processo de integração frente às ocorrências cotidianas.

  Às vezes, todos os componentes incluídos em um dia apontam condições favoráveis. Os sinais do tráfego parecem mais demorados e atravessar a rua fica mais fácil, prazeroso até. As pessoas na rua lhe sorriem mais, elas notam em você uma abertura para uma alegria sincera, predisposta à troca e você acolhe essa energia projetando maravilhas para o resto do dia , da semana. Neste embalo, os buracos e terrenos irregulares da rua são insuficientes para atrapalharem a sua força, a incomparável vontade de superação da qual você, acreditando ser um super-herói, embarca cheio de confiança. Basta um simples lance de escadas impedindo o super-homem de chegar ao destino desejado para a realidade tomar forma, como se a dificuldade em realizar coisas 'fáceis' nos tornasse improdutivos, estéreis e inválidos. Muitas vezes fica difícil ao próprio cadeirante não se sentir assim.

 Mas o dia não estava bom? As coisas não corriam bem, seguindo um percurso favorável? Sim,sim. As pequenas pedras no sapato são as que mais incomodam. Sempre haverá algum fato lembrando a limitação sujeita a qualquer portador de deficiência adquirida.Trocar lâmpadas?Pegar o livro no alto da instante?São atividades que não requerem uma habilidade especial.Devido a isso, haverá um imã remetendo o quanto aquelas ações eram feitas por você facilmente, sem hesitação alguma. E agora , mané??

 Enche o saco a obrigação de servimos de exemplo, provarmos o quanto somos guerreiros, quando no fundo o desejo por reconhecimento profissional, falar besteiras e promover trocas de afeto(yes, nós temos saliências!) nos é comum a qualquer cidadão andante.

 Consciente da reabilitação física e dos sacrifícios incluídos ,o difícil é operar uma reabilitação existencial. Fazer a CPI das questões que lhe empatam , sem esquecer das alegrias e dádivas presentes no caminho de qualquer pessoa.

 É fundamental promover a construção de novas estradas capazes de ultrapassarem as escadas. Exercício do braço, do agir e de assumir quem nos tornaremos. Muito difícil , porém as licitações para obras estão a pleno vapor.

  Um abraço PARATODOS!

  André Nóbrega.

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