quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crônica-Encontro no café

  A tarde estava fria demais para ser comum. A constatação não era medida pela temperatura, começou a ser definida a quebra dos meus hábitos rotineiros quando eu avistei da esquina o meu boteco fechado. Além de estar num outono disfarçado de inverno, calhava daquela tarde ser feriado e o meu boteco tem um grande movimento à noite , principalmente na noites que adentravam a madrugada antes de um feriado.Para não perder a viagem eu toquei a minha cadeira de rodas para o café ao lado do meu escritório.

 O local estava habitado , sem estar lotado. Todo o clima da rua conferia serenidade. O movimento de carros estava abaixo do normal , as buzinas não eram sequer ouvidas e muitas famílias passeavam , alheias a qualquer possibilidade de estresse. Talvez, essa impressão tenha ficado mais nítida assim que fiz o meu pedido e avistei a harmonia de um casal de jovens e sua filha, um tesouro de no máximo três anos. A distância da minha mesa não permitiria ouvir a conversa dos pais, mesmo porque as reinações da filha logo me encantaram.

   A menina não estava vestida de fada , não brincava com a sua comida , muito menos fazia barulho.Acreditem, parecia ser uma criança de quase três anos calma. Bastou chegar uma senhora levando para passear o seu poodle,cuja vestimenta  remetia mais a de uma paquita do que uma cadelinha. Não acredito que houvesse um conhecimento prévio por parte do entusiasmado casal e a senhora.Os cumprimentos formais indicavam uma simpatia de etiqueta , enquanto a afinidade entre a criança e a cachorra ,agora começando a saltar , foi instantânea. 

 Os carinhos trocados entre a menina e o animalzinho latindo mudaram o status do refúgio do café para abrigar uma farra. Durou o pouco o momento , a garotinha levou alguns festejos e uma lambida da poodle paquita. . As poucas pessoas ao redor riram da cena.A mãe delicadamente colocou a filha no colo. A senhora entendeu o código , polidamente se despediu e seguiu o seu caminho . A cachorra obedeceu  o comando e interrompeu o latido. Achei isso ótimo , pois aquele ruído me fazia sentir saudades das buzinas ensandecidas. A linda garotinha distribuía sorrisos e , vívida, foi atrás do cão guia.Zelosa a mãe foi atrás de sua filha. Eu fiquei nostálgico de mim mesmo.

  Não foram os passos faceiros da linda menina que remeteram à minha imobilidade física , e sim o de não registar os fatos como aquela criatura de quase três anos lançava diante do seu universo.Um olhar franco, incapaz de comparar 'uma' poodle a uma paquita e buscando o novo. A nostalgia deu lugar a um sensação mais palpável ; a do frio prenunciando uma noite gélida.

 Tratei de pagar a minha conta revestido de disposição , agradecido por testemunhar essa ação e tramando a minha volta ao boteco , mesmo computando o buzinaço como fator integrante ao lugar. Bom mesmo era poder transitar em realidades diferentes e complementares na mesma rua.Fui feliz para casa.

Um abraço PARATODOS!

André Nóbrega.

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