quarta-feira, 6 de abril de 2011

Funções de acessibilidade no boteco!!

  A filosofia dos bares é preciosa a quem estiver disposto a desbravá-la. Eu herdei do meu pai o gosto pela atmosfera nesse local. Não foi nenhuma imposição formal, eu sempre gostei de acompanhá-lo nas incurssões dele. Eu mantinha desde muito garoto uma relação respeitosa pelos assuntos discutidos ,  era solicitado só para contar piadas infames e , sem saber , me tomava de respeito pela palavra daquelas pessoas cada vez mais próximas. Eu renovava o meu repertório de piadas com os amigos do meu pai e as testava na escola, com moderado sucesso. O manancial de histórias contidos nos frequentadores de um bar me municiou de curiosidade frente à discussões improváveis ,além de um profundo respeito pela cirrculução da boa conversa .Não virei humorista, sou abstêmio . no entanto continuo me mantendo convicto dos poderes reunidos num local onde reuniões de amigos, casos de amor e ódio são alimentados , renovados e adiados. Podemos reunir tais elementos numa peça teatral, mas sem a naturalidade ,o encanto natural promovidos pelo bar.

 O nivelamento cultural do frequentador do bar pode ser medido parcialmente em uma roda de conversa querendo ser séria, assim como o resultado da malhação da garota passeando com o cachorro avaliado e o problema de saúde do garçom debatido . A condição é não exigir profundidade em um tema.A instantaneidade é um dos atrativos do local. Em vinte segundos tudo pode mudar,principalmente se a garota com o cachorro volta sorrindo do passeio na hora do garçom perde tempo demasiado reclamando do resfriado. A sede depõe contra essa nobre categoria ,por isso cederá espaço para a reposição dos copos e corpos se avolumando em um espaço contíguo.

 Tudo é tão urgente na condição efêmera de um bar ou boteco, onde o palco cativa os habitantes de tal universo tomando-os exultantes em clima de  construção contínua.Talvez isso seja tão poderoso enquanto instituição do díalogo, da dica do excelente filme visto , da música composta. No entanto ,de nada vale um desabrochar poético ás vésperas de um FLA X FLU. Ou se alguém conseguiu mais do que o sorriso da moça do cachorro,para a partir daí se dispor a inventar os detalhes, generosamente.

 Não me compete propagar o realismo dos relatos por mim ouvidos.Tudo é uma questão de foco e de fígado. Eu aprendi mais ouvindo do que reagindo aos fatos de bar, pois bastou eu frequentar os bares sozinho para notar a falta de graça nas piadas feitas , trazidas em casa. A graça é compartilhar das vivências com o efeito de propiciarem à bebida, à apreciação dos tira gostos e a da fofoca uma pessoalidade hospitaleira. Isso reconvoca a sua presença.

  Há sempre de se louvar o cenário pródigo em reunir discussões acolaradas sobre futebol ,soluções ovacionadas para se salvar o mundo e capazes de fazer do seu frequentador um artista ou uma caricatura, tudo é uma questão de momento do copo e fomento da alma.

  Eu bebo dessa fonte há algum tempo, na base da coca cola e do silêncio eu fui capturado por um  boteco. Desse espaço eu acesso muitas vivências e elas não precisam necessariamente serem minhas.Elas necessitam transitar nas histórias de cada litro até eu poder captá-las.

  Muitas pessoas a traduzem o bairro em que moram através do ''estudo'' concentrado ao botequim vizinho. Se não for antropológico, será uma experiência engraçada, portanto rica.

 E  por falar nisso ,uma coca cola gelada agora seria uma ótima...

Um comentário:

  1. Não é papo pra mudar o mundo, mas pra alentar a tormentosa realidade.

    Um brinde!

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