A cultura de rua no Rio de Janeiro é um patrimônio rico , vinculado ao nosso clima e a tendência que a cidade convoca os seus habitantes a descobrirem a cidade. Um dia de sol límpido não melhora o mundo, mas nos faz dar uma espiada ao redor.Circular e permitir o encontro com pessoas a quem você não programou se deparar , mas que a partir do reencontro surjam possibilidades para um chope, um cinema e um convite de trabalho até.Em decorrência da minha lesão neurológica os meus movimentos básicos ficaram comprometidos, assim como a fala e o acesso à cultura de rua do Rio.
Durante o meu primeiro verão após a lesão a troca da praia pela fisioterapia foi compensadora do ponto de vista clínico.O meu suor possibilitou melhoras consideráveis , a dedicação foi extrema. Não poder circular pelas ruas onde moro, falar sobre futebol com conhecidos, cumprimentar o jornaleiro e ir à padaria eram possibilidades distantes .Passar um verão no Rio de Janeiro sem vivê-lo como você o viveu em trinta anos de vida foi necessário. Eu saía somente para ir à clínica de fisioterapia. O meu erro foi viver exclusivamente para a reabilitação , deixar de lado os chamados da vida.
Por um tempo, eu deixei de frequentar a rua por cagaço. Quando eu passei a apresentar condições para interagir socialmente foi chato explicar a quem encontrasse os fatos ocorridos.Chato porque a minha voz lembrava a do Pato Donald e ao relatar a experiência eu tornava a presenciar alguns sentimentos . A família foi a minha base, a minha bússula , o meu mapa permanente a espantar qualquer ameaça de precipício.Eu devo a outros três fatores a ajudar em meu processo de ressocialização.Vou citá-los por ordem cronológica: passar a frequentar o Bar Rebouças , ser paciente da Rede Sarah e conhecer o Projeto PRAIA PARA TODOS.
Eu passei a frequentar o Bar Rebouças pela simpatia e humanidade de uma grande amiga minha .Foi durante a Copa do Mundo de 2010. Eu estava deslocado ,olhando aquela galera bonita farreando e achando que aquilo não era comigo.Na época , eu ainda necessitava dos cuidados de um assistente de enfermagem para sair, e a minha amiga sentiu a minha vontade de participar daquela celebração e , assim, fui apresentado ao Bar Rebouças.Se você achar exagerado o relato , confira você mesmo indo ao Bar.Pode me chamar , inclusive. Uma vez iniciada a reabilitação social , tive facilitada a minha reabilitação integral pela Rede Sarah.
Ao conhecer o trabalho , a infraestrutura e , principalmente, a paixão das pessoas da Rede Sarah , eu redobrei a minha intensidade visando a reabilitação e adicionei largas doses de entusiasmo ao meu caminho.Em dois meses , eu realizei o máximo de atividades ao meu alcance. Além da fisioterapia, tive aulas de como tocar a cadeira, fonoaudiologia, natação,oficina de artes, expressão corporal e fui apresentado ao GIP,o grupo de terapia intensiva destinado às pessoas com lesão adquirida e pessoas portadoras de necessidades congênitas.O grupo é admistrado por duas brilhantes profissionais; uma pedagoga e uma psicóloga.Duas mulheres fortes ,capazes de admistrarem as questões expostas pelo grupo.Todos saiam transformados de alguma maneira com as discussões evocadas.Nesse espaço falamos sobre as dificuldades do dia a dia e de como poderíamos viver respeitando à realidade de cada um.Eu aprendi demais com o GIP, eu me fortaleço quando volto ao Sarah a fim de fazer exames e rever os amigos feitos na instituição.
O projeto PRAIA PARA TODOS foi duplamente importante.Por possibilitar o meu reencontro com o mar e , mais ainda , conhecer pessoas bem humoradas,conscientes e que me obrigaram a abandonar o estigma cultivado por mim de cadeirante coitadinho.
Hoje , eu começo a redescobrir as ruas. A maneira de me locomover mudou radicalmente, o jeito de observar e falar com as pessoas, também. O apelo das ruas é irresistível .Graças ao suporte dado pela Rede Sarah, o ineterrupto afago familiar ,dos amigos e amigos que me dão muita força para usufruir o bar, marcar um cinema e discutir futebol, eu ganho fôlego para percorrer os mares que virão.
Um abraço PARATODOS!!
André Nóbrega.
Bom dia!!!!
ResponderExcluirAndré, muito gratificante ler esse relato. Estou na torcida para que vc continue suas redescobertas! Bjs.
Ana,
ResponderExcluirobrigado pelo incentivo . Com o apoio de vocês eu prossigo mais forte.
O verão vai chegar em breve e O PRAIA PARA TODOS voltará ainda melhor.
Um beijo,
André.