quarta-feira, 4 de julho de 2012

Último post do blog.

  No final de março do ano passado , o meu cenário pessoal era desesperador. Estava ainda sob os efeitos do prognóstico de uma neurologista.Médica cujas palavras taxativas foram as  de que as chances de eu voltar a andar seriam nulas. Naquela época,faltava realinhar outros objetivos à existência. A vida se resumia à fisioterapia,voltar a andar era o objetivo almejado,sentido e inscrito na totalidade das minhas ações. Outros neurologistas apostavam na minha reabilitação,voltar a andar exigiria muita dedicação, mas pelo fato da neurologista que proferiu esta sentença  ser vinculada a uma famosa rede de reabilitação, o meu ânimo,a minha vontade de lutar sofreu um abalo. Fiquei muitos meses perdido, achei a idéia de escrever um blog pertinente. O título e a foto já incidiam uma reação.

  Passados mais de um ano e mais de 60 postagens, o panorama de vida é outro. A fisioterapia demoliu a infeliz sentença da neurologista,voltar a andar se estabelece como um objetivo plenamente possível, e a cadeira de rodas não é uma prisão que exclui o cadeirante do processo da vida. Escrevendo,conhecendo pessoas empenhadas em darem aos deficientes físicos possibilidades de crescimento pessoal,luta e afirmação aos direitos por nós conquistados ,houve um fortalecimento da moral e do julgamento que detinha de mim. Com a vida estática,as suas ações tornam-se inválidas,devo muito a galera do PRAIA PARA TODOS pela injeção de ânimo feita e por depenar a pena que sentia de mim mesmo. Aos familiares, devo tudo. No período compreendido entre a lesão, as idas e vindas a médicos, a realização de exames e o apoio integral para a maratona empreendida pela fisioterapia,eu não chegaria muito longe.

 No entanto, passos consistentes têm sido dados.São progressos animadores na fisioterapia,voltar a fazer uma faculdade onde fui bem acolhido,assim como uma vontade incondicional de evoluir e lutar pela acessibilidade dos meus irmãos deficientes estão inscritos comigo.Não há a necessidade de um blog para partilhar sofrimentos, avança agora um apelo incontrolável de incendiar a alma ardente por outras vias.

  Foi excepcional manter através de poemas e crônicas um termômetro das sensações asfixiadas,na tocaia por uma expansão da alma. Os primeiros passos foram dados, há mais ou menos um mês recebi do meu fisioterapeuta a notícia que poderei iniciar o tratamento para começar a andar com muletas. O semestre na faculdade terminou,fecundando uma rotina de estudos,contatos com uma juventude elegante e sincera altamente motivadora. Então, o percurso iniciado pelo blog no dia 23 de março de 2011 encontra nesta agradável tarde de 04 de julho um sentimento de profunda gratidão.Por entre tantos caminhos e flagelos expostos, para enfim congregar o corpo , a mente e o coração postos em definitivo a caminhar, mirar adiante.

UM ABRAÇO APERTADO PARATODOS!

André Nóbrega.

domingo, 20 de maio de 2012

Crônica- Ser um pai eficiente.

    Algumas reflexões surgem quando menos se espera, quando estamos distraídos e por algum desvio de rota o momento até então sugerido o atinge, modificando a ação presente e o faz parar e fazer pensar. Há cerca de duas semanas o clima no buteco que eu sempre frequento conjugava festa, por motivações claras. Era sexta-feira, o Rio de Janeiro  firmava uma lua cheia com pessoas plenas em partilhar prazer , amenizar a semana e era nesta sintonia  com a qual a noite do Bar Rebouças prosseguia. A mesa ao meu lado estava habitada por belas e jovens mulheres a colocarem em sua conversa temas diversos, desde comentários sobre os shows até eventualidades do trabalho que as deliciosas balzaquianas me faziam dirigir olhares e ouvidos para o que se passava entre elas. Da minha mesa, cercado pelos meus amigos eu fiquei momentaneamente cego e surdo para os papos sobre futebol , as essenciais piadas sacanas semamamente trocadas para se fixar àquele perfumado grupo. Como a Rua  do Bar Rebouças estava movimentada, da rua surgiu o elemento capaz de modificar tal imersão contemplativa.

 Passou pela calçada um casal que regulava em idade e espírito com as mulheres da cobiçada mesa . Junto ao casal, vinha uma menina de quatro anos, tão graciosa quanto tímida. O  pai da menina vinha de mãos dadas com a sua filha. O homem já chegou cumprimentando uma das mulheres da mesa, enquanto a mãe da linda criança se juntava ao grupo. A presença da linda menina evocou um frenesi maternal, tão bonito e espontâneo que fez converter uma mobilização das intrépidas balzaquianas para afagar a garotinha. Beijos, brincadeiras feitas com a intenção de celebrar a inesperada visita foram feitas.A timidez da menina passou, mudou também a minha perspectiva diante da situação observada.

 De repente, o grupo das lindas mulheres deixam as vocações de mãe aflorarem e o orgulho estampado do pai da linda menina me chamou atenção. O único homem do grupo regulava em idade comigo, o que fez destacar a legítima alegria da sua paternidade foi uma diferença circunstancial. O cara estava em pé a partilhar sorriso com a mulher abraçado junto a ele , estava ele ali comemorando o resultado daquela união manifestado por aquela joia de quatro anos. Mesmo estando perto da mesa eu fiquei muito distante daquele universo. O fato de eu estar em uma cadeira de rodas trouxe um peso ao momento, que da iminência de uma discreta paquera me fez formular intimamente uma questão:que tipo de pai eu seria hoje, precisando ainda usar de uma cadeira de rodas para utilizar a maioria das minhas funções?

 Um conjunto das imagens praxe dos programas feitos por um pai com o filho(ou filha) me invadiram. Então, foi a partir deste efêmero mecanismo de projeção que eu comecei a me imaginar levando a minha cria ao Maracanã, ao cinema, para viajar e tudo o que tradicionalmente imaginamos que um pai deva fazer. O meu pai fez tudo isto comigo,mas  naquela atmosfera do bar eu tive uma bad trip. Pus-me a imaginar a realização das incumbências de um pai tradicional tendo que tocar uma cadeira de rodas. E o pior, andei conjuguei tais pensamentos da pior maneira possível. Eu imaginei que uma deficiência pudesse compremeter o exercício de uma paternidade eficiente. Foi tamanho o abalo que eu pedi ao Jorginho, eleito o melhor garçom de Bar do Rio, a minha conta e parti para a minha casa.

  Passadas quase duas semanas soa exagerada a intensidade negativa da minha interpretação quanto ao ser ou não um bom pai. Mesmo assim, tal sensação não foi inválida, pelo contrário. Não demorou muito para eu puxar da memória feita por exemplos próximos de pais cadeirantes presentes e atuantes e outros tantos exemplos irritantes de pais andantes e ausentes. E além do mais, o Maracanã é um canteiro de obras, para se assistir a um filme a presença física não se faz necessária e para poder viajar há muito mais condições de passeio do que na minha época de filho. Estou bem mais tranquilo, certo de que encontrarei uma boa maneira de exercer a paternidade.

  Quero muito encontrar a mesa com as lindas balzacas, puxar conversa e mencionar o jeito delas no fino trato com as crianças. Por isso é que eu ''estaciono'' a minha cadeira no Bar Rebouças, o buteco onde o acaso opera com força e graça, seja por caminhos tradicionais ou não...

 Um abraço PARATODOS !!

Poema- O tom perverso do nosso contato




O tom perverso que predomina em nosso contato





Quero os seus gestos firmes e distantes

em um regime voraz. Veto qualquer alcance

de paz pela sua coxa. Por que incide nas

pretensões de moça as nuances de diaba.

Tenho diante de mim alguém com ações

contagiantes ,e os peitos apontados para

o desdém . Bem antes de qualquer pretensão

futura, esta mulher congela em sua boca

as minhas palavras. O que ela escuta apura

o quão débil é a ternura frente ao desejo.

Acima de tudo, a minha amiga requer crédito

para o seu solo . Sem tempo ao estudo,

seguimos inéditos para o amanhã que aterriza .

Quanto mais imprecisa é a demora em revê-la

menos sã fica a minha glória. Amando mais a carne

dela torno indecisa a minha história. Com cismas e

descréditos , tanta faz o tom perverso que contamina

o nosso contato. Com ela ao meu lado fica evidente

Como é bom termos nos excessos os meios para

sermos sólidos no extravaso e leigos quando projetamos

alguns assuntos. Nenhum ato romântico nos espera,

a brasa segue desmatando primaveras e o breu atento

ao cântico desta esfera falha e fêmea a me doutrinar.

Basta estarmos em conjunto para os segundos produzirem

fagulhas  e a monotonia se assanha até erradicar-se .

Figura efêmera e essencial, tolo é quem banha sentimento

enquanto você goza do meu universo confuso uma nervosa

pretensão romântica .Perdura o perfume da sua pele,só incomoda

a ação escrava, nova e ávida,sedenta pelos teus gestos.

Sigamos em frente, minha querida  carrasca.Contigo a percepção

 vulcânica produz emoções intensas,mas contrasta com um presente

de sobras cinzas.Incendiado ainda eu prossigo cedendo braço a tais

desavenças.O que tenho contigo atende às necessidades mais primitivas

mas faz do romance um embaraço , constrói uma saudade imperativa

que faz a minha sede proliferar presa a uma incômoda doença.



RIO,20 DE MAIO DE 2012.

domingo, 15 de abril de 2012

Poema : É dela


É dela

 Espio o suspiro dela porque sozinho o ar é livre,
demarca e não inibe. É dela o estilo sutil que congela
e embaça a minha estrada . Talvez a janela considere
mais a vidraça do que a espera íntima,não sei...
Espero dela tanto uma primavera quanto uma queda
sincera. Por invalidez afetiva entende-se como medo
covarde, do rei mendigando mês a mês um novo
palácio , quando o fato mais é obvio é construir
com ela uma história outra vez...

RIO, 15 DE ABRIL DE 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Crônica: A inclusão em cima da faixa .

  Recentemente, eu tive o privilégio de voltar a estudar. O estudo dirigido em si é enobrecedor, e , quando ele se incorpora a uma vivência universária abrangente, torna-se espetacular. Há pouco mais de uma semana , sou calouro do curso de Publicidade e Propaganda da FACHA( Faculdades Integradas Hélio Alonso ) e o curto período já supera todas as minhas expectativas acumuladas à respeito dessa experiência.

 Para começar, a faculdade é toda projetada a fim de propocionar estrutura, conforto e segurança aos portadores de necessidade especial. Há rampas , elevador específico para o transporte dos cadeirantes, mesa em sala de aula adaptada e banheiro especial . Mais do que isso, na FACHA todos os funcionários são naturalmente gentis e participativos  . Além dos benefícios propiciados pelo saber nas aulas e pela fundamental troca de experiências entre os alunos, há um item motivador amplamente sentido nesse reingresso universitário: a capacidade de inclusão manifestada em cada canto da universidade, um chamado contra  a imobilidade da qual qualquer portador de nececessidade especial já sentiu. Eu continuo sendo tão deficiente de quando ingressei na faculdade, agora está sendo fornecido um manancial teórico e , sobretudo, um caloroso apoio humano ,constatado pelo meus colegas de curso que me permite ser eficiente.

  A cada ida à faculdade eu tomo injeções de otimismo na veia. A melhor hora do meu dia tem sido a que antecede o momento de chegada à FACHA. Não há no percurso feito para se chegar à faculdade um apego a um ritual determinado.Existe a constatação que estou chegando a um local onde a cordialidade, o notório e elevado saber e a ação solidária me esperam, pois isso é uma condição do local. Fico gratificado por poder  sentir desde o primeiro dia do trote uma ligação direta com a experiência universitária. Isso me dá muita força para tocar a minha vida, seguir em frente e encarar as ruas esburacadas do Rio de Janeiro com mais disposição. 

 Peço desculpas aos que exigem parcialidade e moderação. Nesse momento , o controle absoluto da emoção sobre a razão é bloqueado por uma justa causa. Agora, estou totalmente aFAICHOnado !!

  Um abraço PARA TODOS !!

                                                                                              

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Poema: Pássaro Negro.

Pássaro negro



Pássaro negro , nada mais áspero do que planar

sem horizontes. Por isso, em segredo, minha carne

hospeda sonhos prósperos. Porque sou íntegro quando

lhe escrevo nesse rasante ótico de natureza restrita,ainda.

Estou farto do alarme camuflado de óbito em meio a tantos

desarmes, pássaro negro. Agora percebo o lampejo da tinta forte,

o alarme vasto sobrevoando apego,sem cheiro da carne cínica

e crua a atrair impureza. Com sorte ou não, possuo um porte

trôpego de Apolo vesgo circulando pela vida nova. A vida

se insinua com provas a me convencer de voar. É um parecer

sutil de Ícaro. O solo é o mesmo, meu pássaro...O céu hospeda

íntimo o meu momento farto, outrora mínimo. Não sei dizer como

de um apêndice as asas do meu vôo vigente,óbvio e crente ,

 viraram pedra. Confirmo o quanto viajo melhor, apenas sei

o tipo de ave que sou, pássaro. De tudo, valeu a fim de me convocar

outros rostos. Não o de um corvo,muito menos o de uma águia.

Talvez, todo o desafogo me obrigue  a continuar essa saga incoerente

com o fôlego de luta  e o despertar de uma Fênix...



                                               RIO, 20 DE JANEIRO DE 2012.                                              



ANDRÉ NÓBREGA

sábado, 28 de janeiro de 2012

Poema- Para que beijá-la inteira ?

Para que beijá-la inteira ?


Vou beijá-la na face como se amasse
a tua sorte. Dou um braço pelo seu
sentimento porque beijá-la nas partes
difíceis , driblando impasses é um ato
insano e santo. Ao beijar o teu pescoço
eu renovo qualquer passado dos enganos.
Beijo os teus seios mirando o útero, nos
terremotos súbitos a lhe trepidar, urgentes.
Porque sigo ávido entre as palavras gentis
mais animal do que gente.Despedir-me agora
sem beijá-la evocando mortes instantâneas será
o provável enredo.O apego só navega com freio.
Beijá-la inteira ,consigo.Acompanhar teus anseios
sem criar sonhos nessa composição nos maltrata.
Já áspero dos carinhos murmuro contigo uma poesia
tola.Ao sair do quarto ,todos os caminhos projetam
tempo.A ansiedade conjuga no corpo o seu templo .
Volto assim,a conviver com  a mesma pessoa.

RIO, 28 DE JANEIRO DE 2012.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poema : O meu lixo.

O meu lixo
Para Dani Barros e Estamira.

O meu lixo reciclado é belo.Ele fede a cheiros
Preservados de um universo fixo, interno.
O meu lixo é ótimo para intimar entranhas
alheias, ceias .Até para lustre de cenas solitárias
o meu lixo é pagão quando se asseia, vira Cristo
quando desarruma o bordão das paredes arrumadas
da minha casa. Do meu lixo não exijo razão.Dele
presume-se apenas uma inocência doida,hidratada
com uma esponja líquida de jorros. Uma ardência
anti-caprichos esquiva, delira desses escombros sóbrios.
Porque o meu lixo se assina com tombos em que mantive
Fendas de incoerência feito oferendas conscientes.
Estou omisso a qualquer política higiênica.Seguro dos mil
Anseios presentes sigo querendo a inquietude como colheita.
Eu invisto no meu lixo.Desisto da vida certa tão cega
Baseada em uma cartilha acadêmica de partilha histérica .
Eu assisto a muitas calçadas nobres feitas sob a conduta
Anêmica  de uma vida bem preservada. Entre limpar e luzir
o meu lixo é teimoso em conduzir a normalidade descabelada.

RIO, 27 DE DEZEMBRO DE 2011.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Crônica-A visão de raio x do cadeirante que vai às ruas.

  Observar para agir. Destinar a sua capacidade de observação uma importância de radar e  de rede. Essa capacidade de poder colher das coisas vistas significados maiores dos que os fatos verificados parece uma fuga da realidade. Não é. Para quem fica em uma cadeira de rodas o mundo necessita ser preenchido com novas perspectivas, daí a importância de se enxergar além, fornercer uma capacidade de raio x frente ao cotidiano.

 Uma saída para as  ruas deixou de ser uma ação comum desde quando eu me tornei cadeirante. É um olhar curioso, atento e mais disponível para a vida. Há o perigo da minha cadeira virar, ainda toco muito mal a minha cadeira. Então, cada imagem registrada atende a uma chamada urgente do acaso. A atenção redobrada é para proteção , mas a visão de raio x desenvolvida tem um quê do poeta que edita as coisas de uma forma melhor do que elas são.

Eu não me perco no mundo da lua quando estou na rua , esse direito me foi tirado quando me tornei cadeirante. Melhorar o que vejo não é recorrer à fantasia, é reescrever da melhor forma distâncias cujo corpo não chega, mas são espaços a serem desbravados. Primeiramente com o seu olhar aguçado , capaz de entender o que se passa ao redor com nitidez, para depois estabelecer a melhor maneira de interagir nas situações encontradas  nas ruas . É nas ruas o local em que o imprevisível costuma operar. Portanto , é o terreno ideal para praticar a visão de raio x.

Concentrando a capacidade de captar com mais atenção os flagrantes do cotidianos ,eu adquiri uma carta na manga.Ela se refere as sutilezas agora percebidas. Passei a perceber detalhes com uma precisão gogglogiana. As minhas buscas nem sempre tem compromisso com o rigor burocrata dos fatos. A atenção é vigilante, estando agora eu mais aberto aos raios do acaso que sempre nos atingem, uma ida para as ruas tem um gosto de aventura. As chance de queda existem, eu temo mais é pelos ataques de tédio. Embora eu faça mil vezes as mesmas coisas , siga rotinas e seja fiel aos lugares que vá, eu brigo pela originalidade das andanças pelas ruas. Muitas vezes , eu saio e não há feitos extraordinários acontecendo. Afinal, eu não vivo em um filme do Indiana Jones. Poder sair de casa e voltar vivendo um estado de espírito diferente ao voltar para o meu doce lar é estabelecer a circulação de emoções a nos rodearem.

Para a visão de raio x funcionar , não posso deixar as lentes interiores embaçadas. Vem daí o maior desafio. Esse é um assunto para outra crônica. Olho para o dia nublado de hoje e planejo a minha saída para rua.Irei preservar a segurança mantendo a minha coerência desbravadora. Unindo emoção com atenção eu prossigo.

Um abraço PARATODOS !

André Nóbrega.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Poema -Olhar célebre.


Olhar célebre

É bom sentir o meu desejo expresso
Pelo olhar da moça a esconder o meu maior
carrasco.Quando ameno,esse olhar dela é freio
para um ataque.Meu meio ateu a exaltar os deuses
celebrando o fútil entusiasmo.Fica clara em meu
sorriso a intimação lasciva.Sem aquele olhar as minhas
ações justificam os horizontes de um caçador sem faro.
O meu corpo sua tanta decepção com o despreparo das
outras lentes.O frio se apega ao calor expelido pelas fogueiras
fracas de sentido e rasteja taxas para o desperdício consciente.
A fim de saber,aquele olhar me arrasta para uma data célebre
quando é presente . E fúnebre quando se surpreende mirando
qualquer outro espelho.Olhar de esgrima , longe de ser  a chave
de algum enigma. Quando estou refletido por qualquer intenção
íntima tua a paixão me ativa para o risco, abre  e assina com o
acaso uma valiosa cooperação.

RIO,15 DE DEZEMBRO DE 2011.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Crônica- O verão que atinge a todos!!

  O verão do Rio de Janeiro é um acontecimento. Influencia todos os habitantes sediados na Cidade Maravilhosa. O calor não leva em conta a opinião de quem prefere o frio e temperaturas mais amenas , as altas temperaturas atingem a todos. Para os muitos que esperam por essa época do ano,uma questão fundamental é poder usufruir da praia . Eu sempre amei verão e praia. Foi a partir do verão passado que tomei conhecimento do projeto PRAIA PARA TODOS. A valiosa iniciativa permite aos portadores de necessidade especial o direito de frequentarem a praia com todo o conforto , segurança e alegria necessárias para um extraordinário lazer a beira mar. Há uma infra-estrutura eficaz propiciando o tão aguardado reencontro com a praia . O período de atuação do projeto costuma ser aquela oportunidade breve de usufruirmos das maravilhas de um dia de sol assim. Até o último verão ele manteve uma base permanenete no posto 03 da praia da Barra aos sábados, no período compreendido entre dezembro e maio.

O PRAIA PARA TODOS desse verão ainda não começou. Sendo a iniciativa um impulso de transformação pessoal de largo alcance, eu tocarei em alguns pontos dele :

01) O mar concentra propriedades de renovação. O contato com a água purifica , oxigena os indíceis de bem estar e nos faz vislumbrar possibilidades de alegria instantâneas. Portanto, para as pessoas que pensam e conseguem realizar tal empreendimento , aqui vai um mar de calorosas palmas;

02)As atividades poliesportivas monitoradas pela competente equipe que participa das ações da empreitada impressiona  pela entrega .Além disso, as intervenções promovidas por músicos convidados pelos organizadores ,as gincanas realizadas para se sortear utensílios fundamentais aos cadeirantes e o bom humor manifestado na realização pelos autores dessas atitudes produzem uma corrente solidária. Isso contagia o público alvo , que normalmente seria privado da chance de estabelecer com o espaço (anti-democrático para os deficientes) da praia. São gestos que alegram os pais , os parentes e cônjugues de quem  nos acompanha e ,dessa maneira, produz momentos especiais . Especial na dimensão que qualquer deficiente gostaria de atribuir à palavra;

03)O PRAIA PARA TODOS está crescendo . Acontece que manter essa infra-estrutura requer planejamento , a viabilização de parcerias e apoios a fim de se manter o direito conseguido pelos idealizadores dessa obra essencial.

  Uma vez apresentadas essas colocações  , agora eu estendo a quem estiver me lendo um pedido...

 Mergulhe nessa praia movida pelo fortalecimento da cidadania e que é um marco para quem a frequenta. Antes do verão de sol a pino começar,  conheça o site do movimento(http://www.praiaparatodos.com.br/) .

 Um abraço PARATODOS!

 André Nóbrega.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica- Tesão cadeirante.

  Se para o cadeirante faltam pernas para o direito de ir e vir , isso de cara gera um problema quando o assunto é paquerar , azarar e ganhar alguém.  A falta de mobilidade traz transtornos excessivos para o dia dia do cadeirante porque a rua passa a ser um palco perigoso. Por isso, o olhar desenvolvido para identificar buracos, desníveis na calçada é eficaz também ao identificar com precisão o que se ocorre ao seu redor. Com a cadeira em  movimento, a atenção é para garantir segurança ao se locomover. A cadeira estando parada o  olhar vigilante permanece com você, só que quem escolhe os alvos é o cadeirante.

 Eu passei a gostar muito de frequentar bares após a minha lesão. O bar nivela para o meu ponto de vista as pessoas dispostas a papearem comigo. Nesses momentos, tudo fica em pé de igualdade , o valor da boa conversa é um bom cartão de visitas para se seduzir alguém. Mesmo tendo a voz semelhante ao do Pato  Donald´s ,eu melhorei o meu nível de conversação , sabendo um pouco mais sobre a hora de falar , escutar e soltar piadinhas infames. A atenção que deposito para a mulher que desejo é total. Eu isolo todo o barulho de buzinas vindos das rua e sinalizo para o que ela estiver falando. Assim, a conversa progride , as bases para um entendimento ao que está sendo dito(e o que está sendo mostrado pelo riso e pelo olhar) são um terreno para fecundar emoções.

 Essa atenção total é transferida para o sexo , também.É preciso uma confiança extrema na parceira , se não eu nem consigo chegar à cama para consumar o ato com uma segurança mínima. Uma vez estando lá , o corpo segue caminhos que sabe das limitações físicas , mas que valoriza muito mais os atalhos a fim de se partilhar carinho com mais consistência.Não há pressa para se consumar nada , o nível de confiança estabelecido permite desfrutar melhor do tempo para se amar.

 O tesão cadeirante é uma lente capaz de enxergar além , é um sentimento capaz de cavar nas dificuldades de locomoção  uma economia precisa e sadia na conversa , nos risos e compromissos firmados. O tesão cadeirante anda lado a lado com o riso , concentra pensamentos sadios quando precisamos nos levantar ao despertarmos de noites mal dormidas . O tesão cadeirante é um amor incondicional pela vida que precisa ser reforçado sempre. Pois , para quem é cadeirante a invalidez maior é ficar parado, à espera de acontecimentos e não se moblizar internamente.

O tesão cadeirante é prosseguir sempre.

Um abraço PARATODOS.

André Nóbrega.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Crônica - Simplesmente complicado.

  A Síndrome de Miller Fisher se caracteriza pelos danos causados à mobilidade , a maneira como muda a sua fala e pela limitação causada à coordenação motora fina. Os danos ao corpo são bem agressivos , a minha evolução em relação ao quadro em que há pouco estive é nítida. O trabalho físico , a fisioterapia bem direcionada ,vem alcançando êxitos. Voltar a andar tem sido um objetivo possível atualmente.Eu posso classficar o meu momento atual como sendo o de uma transição. Saio de uma vivência de cadeirante para readiquirir uma demorada autonomia em meu andar. A cadeira é o meio de transporte necessário , ainda. A disciplina usada em dois anos e meio de fisioterapia esbarra na ansiedade em voltar a andar o quanto antes.

 Eu sou muito agradecido pela oportunidade de reversão do meu quadro físico . A Síndrome de Miller Fisher depende muito mais de um esforço contínuo em busca da reabilitação pretendida. O que me pertuba é utilizar a mesma ponderação , equilíbrio e confiança empreendidos na fisioterapia para a minha vivência diária. Clinicamente , a melhora é valiosa. No entanto, não poder fazer agora coisas que em meus 30 anos de vida eu fui capaz( e que há dois anos são ações complicadas) testam a minha limitada capacidade de tranquilidade disponível. Conseguir atravessar a rua com o andador é um ganho , sem dúvida. Tentar subir escadas  , pulando os degraus racionais para se recondicionar é imprudente. Convém agora saber bem  o que posso fazer muito bem ,levando em conta a margem de segurança. Basta chover para a locomoção se complicar. Além de inviabilizar o andador, isso não me dá garantias de não levar um tombo usando a cadeira de rodas. E mesmo chovendo , eu continuo a tocar a minha cadeira pelas ruas onde moro.

  O momento em que eu vi a Lagoa Rodrigo de Freitas de pé novamente foi mágico , ocorreu há mais de um mês atrás. Falta muita coisa para  eu conseguir dar meia volta nela . Para isso ocorrer , devo priorizar os ganhos obtidos desde 2009 com toda a gama de carcaterísticas que possuo. Dando o mesmo peso aos defeitos e qualidades.Saber como utilizar o que tenho de melhor e de pior para processá-los ao meu favor . Controlar a ansiedade para limpar os caminhos das necessidades referentes a cada etapa do processo. É simplesmente complicado. Por isso mesmo , vale à pena prosseguir.

 Um abraço PARATODOS !

 André Nóbrega.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poema-Conversas Paralelas




Conversas paralelas


O telefone do vizinho toca.Sons sem conforto
inicialmente são compartilhados. Nomes de favores
estão sugeridos.Uma prosa é iniciada e eu estou novo
para o sono. Os anos de diálogos comigo à noite
se fundem à risada contagiosa do papo ao lado.

Esse ato me lembra da penugem da mulher distante
mas o catálogo de prosas percebidas está velho.
As visões do que vivo confundem ,a alegria da voz
do papo íntimo do vizinho é um evangelho mórbido.
Jogar o lixo para fora de casa talvez resolva algo .
Omisso até para a estrada do frio o meu corpo 
enfim engata o pavio da lucidez.  

Eu não confio nas conversas paralelas. Magro de tanta
acidez eu prossigo.O destino de uma conversa intriga
porque desfez o meu silêncio.Depois ,hei de bater nessa
porta cuja serenidade suja o bem senso cheio de dor
e me renega . Com isso,o tempo do desabafo vira uma
pedra contida. Dos pés sem corrida retenho o máximo
dessa existência pouco vivida. 

O telefone fora do gancho da minha casa também
me desafia.Longe do dia, enumero nomes para uma
conversa acolhedora.A minha memória ingrata pára
qualquer carinho, não perdoa um descanso sereno.
O diálogo sorridente do vizinho e a minha masmorra
insone.É o espetáculo evidente sem alívio ou amanso
para qualquer disposição salvadora.

RIO,14 DE NOVEMBRO DE 2011.

domingo, 6 de novembro de 2011

Poema - A voz que é colheita

A voz que é colheita


Essa voz de festa próxima
Me convoca ao desvario,sabes?
Dessa forma destemida de desejo
Eu lhe desafio a um compromisso
indócil. Quando você acumular
falta ,afague um vício mais nobre.
Das suposições, traga consigo
o risco nos murmúrios mais triviais.
Daí, o que eu persigo como meta não
Será ata do vagar inseguro. Data
da vontade profana a esperada festa
pelo mergulho teu.Assim, a gente
desfoca as reações desse confisco
 injusto .Daquele céu aquecido de papel
não haverá passo seguro sem um
sadio extravaso. Esse teu rosto tem
o meu instinto definido. O posto de quem
revoga ações do presente e não atende
ao corpo, me mantém ilhado a um nó sádico.
Serpente do medo é supor,somente. Nada
de vestes de mármore.Me interessam os teus
artifícios ondulados em viva colisão feminina.
Dispenso as contra-provas desviando do
Caminho o indicio ao vagar pacífico.Quero- te
aqui sendo a mola que arisca rindo horizontes
comigo em um xote contínuo ,elevando escalas.
Acima da dúvida assola a tua sorte.Ela risca
o nosso destino intima fontes e provas
insuspeitas.Cedo ou tarde,a tua voz me vacina
daqueles mares tranqüilos.São tolos os meus
inquilinos a aceitarem os prazeres tão ocos
de você.Os motivos da colheita são decisivos
 os da rejeição são sons estéreis de tons
e momentos outros.Eu cativo o fomento evidente
a uma nova canção.Crente das trovas e dos
fragmentos à espreita, a paixão rejeita os meio termos.
Se a tua voz enfeita os silêncios, ela enfeitiça
os nossos ermos tempos.Constantes ou passantes
o importante é nunca estarmos desatentos.

RIO, 05 DE NOVEMBRO DE 2011.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poema- Fagulha improvável



Fagulha improvável


Amada a palavra muda
Muito difícil na ida
Porque arrebata no vazio
Uma idéia aos berros ainda.

Palavra colhe estéril e inunda
Precipícios quando quer.
É divina e traiçoeira
Porque aglutina princípios
Para os maiores espantos.

Sem papas na tinta
Com letras marcadas em digitais
De espera,para que o destino
Acometa paz como quem ensine
posse aos filhos.

Sem deserto a palavra crava
Ventos em alicerces frágeis.
Ela marca a pele com dúvidas
E adere preces próprias
Com verdades dúbias.

Palavra muda,palavra sempre.
Quem persegue uma ilha entre sons
É isolado.Quem se despede
Do concreto até o incerto
Como desdém da fagulha improvável
Nas letras será quem busca nas palavras

O motivo para um espelho correto por fim
acha um tedioso refém.

RIO,06 DE JUNHO DE 2010.

Poema- Descoberta

Descoberta

Lamba teus males
Com anseios de marés.
Para relvas em campos
De verde musgo és tu .
Não bastam rodapés
De qualquer escritura
Vesgo olhar e alma sã
Inscrevem na carne
tua mulher segura
para o compromisso
ventilado em desarme.
Barca dos pés descalços
Nefastos ,sem bússola
Abocanham brisas...
A prece convida quieta
nas  tempestades
-    entre divisas   -
Para uma magnífica
D E S C O B E R T A!!!

RIO,17 DE JANEIRO DE 2010.

ANDRÉ NÓBREGA

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poema- Fôlego para atravessar tsunamis

Fôlego para atravessar tsunamis

Sabes do nosso ponto de partida?
Você funciona sendo trilha
o ardor delira a tendo como sócio...
Sabes estar acolhida pelo sonho
Da mais pulsante via?Daí ,qualquer
Vento requer uma paz , um flagrante
Capaz de esconder o que me inspira
à prazo o teu peso. Somos sombras.
Seremos mais quando os poemas
Celebrarão contágio e dos terrenos
Improváveis os termos da coragem
Serão guia. Fria é a contagem dos
tempos.O templo de oração que
anestesia miragens.Diante da poesia
somos todos capazes.Sem reclames
verdades totais ou pazes com a fossa.
Mas , moça ,a saudade faz traçar desertos
E desenhos. O rabisco pelo qual se defina
Força aguarda pelos seus traços. Assim
Uma página se verte em lágrima,adverte
Uma máxima que é infame...
Quando a distância convoca pressa o calor
Engessa a vida. Dá fome não vê-la, uma
Besteira de náufrago o meu encanto.Mas quer
Saber?Tenho a bóia sincera da ousadia aqui.
Sem prever,estou pronto para alegrias fraternas
A disposição que dome as suas calmarias
E atravesse os seus tsunamis.

RIO, 14 DE SETEMBRO DE 2011.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Poema- O tempo não considera boas intenções

O tempo não considera boas intenções

Não chame de azar o impulso sincero a rondar
O teu momento.Se é justo ou não,o motivo da tristeza
a quem acolheu o instante da perda como o aleitamento
nas redondezas do teu flagelo.Será eterno o teu reclame
se aceitares o sofrimento com culpa e se acanhares ao evitar
risos açoitando pena em você.Lembre-se que se pregares
a culpa feito um martelo diário,o crediário rancoroso aumenta.
Bote nessa dispensa uma taxa mínima. Uma brisa de riscos
ao alcance do gozo. Senão, o passo intima ao corpo a brasa
de uma censura . A tua felicidade assina com o acaso
implorando migalhas de prazer.Das tralhas traga a sina
inevitável ,pois ela será sempre minha e tua...
As idades passam , o tempo não compactua atrasos
sucessivos.Assim , os esforços empenhado nas ações
serão segundos seguidos pela cobrança contínua.
Isso ,definha o alimento rico, o tesouro nascido do gérmen
cujo fio valente nos mantém.Dê sustento ao estouro do ouro
alimentado pelas lágrimas. Quando tudo apela gelo, o vento
espera espalhar sonho adormecido. São preocupantes as idas
E vindas , a alegria se deformar em desespero .Dessa guerra
você anuncia haver partido a esperança ,engessará o zelo próprio.
O tempo não considera boas intenções. Então lhe direi o óbvio;
Respeito o teu sofrimento. A razão para reclamar é infinita
tudo complica quando o principal é transformar-se por dentro.


RIO, 24 DE AGOSTO DE 2011.